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24.1.07

A CRONICA DA SEMANA

A OPA do Millenium/BCP sobre o BPI já se arrasta há muito tempo. E não é possível a quem, como eu, viveu a outra operação semelhante ocorrida há doze anos atrás, deixar de fazer comparações. Falo, naturalmente, da OPA do BCP sobre o BPA (vidé a minha descrição romanceada em "A OPA", editada pela Vida Económica em 1996).

Onde aqui, hoje, levamos quase um ano já, desde que foi anunciada a OPA pelo Millenium, a outra foi decidida num relâmpago. Os rumores sobre o lançamento da OPA surgiram no dia 1 de Janeiro de 1995, foi formalmente anunciada um par de dias depois e, numa semana, foi autorizada pelo Governo. E, conforme conto na obra citada e nela procuro demonstrar, é bem possível que a aprovação tenha surgido numa simples reunião com o Ministro das Finanças, no dia 31 de Dezembro de 1994. Isto é, a autorização pode ter demorado apenas o tempo que vai do pôr-do-sol de um dia até ao seu nascimento no dia seguinte. Era, então, Ministro das Finanças um senhor chamado Eduardo Catroga, o mesmo que, no decurso já desta OPA, voltou a assumir posições públicas de defesa do BCP, através da publicação de artigos de ataque às "Cajas" espanholas, sendo que uma delas é um dos mais fortes accionistas do BPI e um dos prioncipais esteios da resistência à OPA agora lançada pelo banco em grande parte gerido, como é público e notório, pelos homens da Opus Dei. E foi assim rápida a decisão, apesar do universo financeiro português estar mais periclitante na altura do que agora. Inclusivamente, o BCP não tinha capacidade financeira para "agarrar" o BPA e teve que utilizar uma complexa engenharia financeira, com a Companhia de Seguros Império (do Grupo Mello) por parceira. As autoridades de então - leia-se, Eduardo Catroga - decidiram fechar os olhos a tal engenharia, inadmissível pelas mais elementares regras prudenciais para o sector financeiro,

A jogada actual do Millenium/BCP foi extremamente arriscada. Desconhecço, naturalmente, as razões que conduziram à decisão de lançar uma OPA sobre o segundo maior Banco comercial português. Podemos inventariar algumas, umas mais lisonjeiras que outras. Naturalmente, a ambição de crescer. Há dois modos para atingir tal objectivo. Um, prosseguindo afincadamente o objectivo de uma maior quota de mercado, através da excelência dos serviços prestados e da confiança merecida a esse mesmo mercado. Outra, "caçando" concorrentes. Depois de uma primeira fase, em que o BCP cresceu graças aos métodos inovadores da sua acção, a partir de 1994 a estratégia de crescimento seguida foi, essencialmente esta. Não apenas no espaço nacional mas também no estrangeiro.

Uma segunda razão para a realização da OPA pode ser a de eliminar um concorrente que provou ser, ao longo destes anos (tempos do BPA incluídos) o único capaz de definir uma estratégia simultâneamente ofensiva e defensiva capaz de ombrear com a do Banco voraz. A consequência natural do sucesso da OPA seria a de deixar uma fatia do mercado avassaladora nas mãos do BCP, permitindo-lhe dar ordens, inclusivamente ao poder político. Algo que suspeitamos ser também característica da Opus Dei. Tem sido, por vezes, excessiva a presença de gente próxima de si, comr poder nos corredores do Poder. Veja-se como o actual Presidente e sucessor de Jardim Gonçalves foi Ministro da Presidência de Cavaco Silva num dos Governos deste.

Uma terceira razão para a OPA seria a da necessidade de equilibrar, a um nível superior, uma estrutura patrimonial anquilosada e atingida por alguns insucessos na estratégia de desenvolvimento além fronteiras.

Uma quarta razão, mais pessoal e talvez mais inverosímil, seria a da emulação. Novo Presidente, com ambições de afirmação e motivado pelos sucessos do seu mentor e anterior Presidente, Teixeira Pinto poderá ter lançado a ideia de controlar por inteiro uma grande instituição financeira concorrente. Não acreditamos muito nesta teoria. Como adiante se verá, a estratégia mostrou-se - mostrava-se logo à partida, tal como aqui dei conta há alguns meses atrás - extremamente arriscada. E não acredito que os demais órgãos do Banco e seus membros tiveessem aprovado uma operação arriscada, inspirada apenas por esta razão. O maior argumento que haveria para defender uma tal atitude seria a da facilidade com que havia decorrido a OPA sobre o BPA. Só que era logo, também, muito visível que os casos não eram comparáveis. Estar motivado por tal argumento seria um erro colossal. Há muitas diferenças entre as duas situações.

Excerto da crónica UMA SITUAÇÃO PERIGOSA - Magalhães Pinto - Vida Económica - 24/1/2007

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