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17.1.07

MEMORIA


"Irois do mar
Nove povo na são valente
e e e mortal levantai
hoje, de novo o explendor
de Portugal entre, as
brumas da memoria
o patria centeavós
dos teus igrejos avós
que te vao guiar a vitória!!
As armas! As armas
Sob a terra e sobre o mar
As Armas! As armas
Pela patrialotar
Contra os canhois
Marxar marxar!"
(sic)

Ao ler este trabalho, de um miúdo já com aquilo que se chamava "a primária" feito, não sei se deva rir, se chorar. Por um lado, não restam dúvidas de que, pelo menos este miúdo, sabe cantar o hino nacional, num tempo em que as estatísticas dizem que só uma minoria dos nossos jovens o conhecem. Mas, por outro lado, que é isto? Que estamos a fazer? Como é que pode ser culto, como é que poderá defender-se na vida, como é que há-de entender-se com os outros, entender os outros, perceber o que ouve e lê, como é que conseguirá contribuir, um dia, para o desenvolvimento, já não digo da nossa Pátria, do nosso país, alguém que, quando devia (pelo menos!) saber ler, escrever e contar, escreve assim? E, o que é pior, este miúdo já está no ensino secundário e, com alguma probabilidade, vai chegar ao ensino superior. Pode até vir a licenciar-se!

Recordo-me que, entre a minha conclusão da primária, aos dez anos, e a minha entrada no ensino secundário nocturno, aos treze, eu li cerca de mil e quinhentos livros. Tive sorte. Gostava de ler. Todo o meu tempo livre era ocupado na leitura. E não hesito em atribuir a essa minha sorte de então o relativo sucesso que tive na minha vida, o contributo, por escasso que tenha sido, que pude dar para que a nossa vida comum melhorasse. Hoje, não se lê. E comunidade que não lê está condenada ao fracasso. Mas, ao ver a preparação, na língua mãe, de quem anda na escola, não custa perceber porque é que se não lê. Nem os livros do Harry Potter um miúdo, assim preparado, entenderá.

Um ciclo infernal. Não há hábitos de leitura porque não se lê. Não se lê, porque não há hábitos de leitura. Não se compram livros porque são caros. Os livros são caros porque não se vendem. E, por fim, não se vendem porque os cuidados tidos, sobretudo na Escola, com a nossa Língua e com a nossa Cultura, são bastante menos que sofríveis.

É necessário quebrar este ciclo (como tantos outros, aliás). Ou, mais uma vez, não vamos lá. E, aqui, temos que ser veementes com os nossos governantes. Sobretudo, com os responsáveis pela pasta da Educação. Chega de reformas! Chega de reformas que não chegam ao fim! Ensinemos as nossas crianças, nos primeiros anos de escola, a ler, a escrever e a contar bem. Transmitamos-lhe a vaidade por uma das culturas mais bonitas do mundo. Coloquemos as nossas crianças a escrever sobre tudo o que as rodeia. Façamos um apelo à inteligência. Premiemos a excelência, também na escola. Desenvolvamos o orgulho de ser Português. Para já, com aquilo que é o testemunho do nosso passado. Para que depois seja com a realidade do nosso presente.

Crónica "CICLO INFERNAL" - Magalhães Pinto - Junho de 2003

1 comentário:

Carlos Silva disse...

Não se admire com o português do miúdo, pois na empresa onde trabalho, temos uma directora quase na casa dos 40 anos, licenciada em economia, que não há um parágrafo que não tenho erros de vocabulário e de construção gramatical. Sentimos vergonha pelo que possam pensar as pessoas de fora que lêem aquelas barbaridades linguísticas