Pesquisar neste blogue

5.1.07

RETALHOS LITERARIOS

O PROCESSO DE DECISÃO

(continuação dos dias 29/12/2006 e 3/1/2007)


Apesar desta preparação toda, as surpresas são, porém, bem possíveis. Um acidente na estrada. O atraso dos aviões ou dos combóios. Algum atrevido ou atrevida a dar-nos boleia. Até um aborrecido entorse num buraco do caminho. Nunca se poderão evitar, em qualquer processo de decisão, os imponderáveis, os imprevistos. Felizmente, a vida não é traçada a régua e compasso. Mas esses imponderáveis serão reduzidos ao mínimo quanto maior conhecimento tivermos das alternativas disponíveis para atingir um fim. Em superfície - que alternativas? - e em profundidade - vantagens e inconvenientes, estruturais e conjunturais, de cada uma delas? Isto é, depois de definido o fim a atingir, o passo seguinte é obter toda a informação disponível sobre os modos de o atingir. Sistematizar essa informação. E aplicar à análise dessa informação o esclarecimento da inteligência, não vá escolhermos ficar a chuchar no dedo, como o bébé da fábula.

Chegado a este ponto, tudo quanto eu posso concluir é que sou verdadeiramente caótico, quando me ponho a falar. Propuz-me falar do casamento e tenho passado o tempo a falar já do bébé. Não é costume ser assim. Ou melhor. Não era costume ser assim. Agora parece que já é mais comum que assim seja. Os tempos mudaram. O que não é de admirar. A Vida, o tal encadeado de decisões de que já falei, é uma realidade mutável a cada instante. Costumo mesmo dizer que não há presente. Só há passado e futuro. O presente é uma fronteira imaginária, perenemente móvel. A informação que temos é toda ela do passado. E a decisão destina-se a produzir efeitos no futuro. Num futuro do qual apenas sabemos que não vai ser rigorosamente igual ao passado. Donde, a necessidade de produzir decisões com o máximo de flexibilidade possível. Com a possibilidade de inflectir caminhos na sua implementação. Se possível, com a possibilidade de voltar atrás com o mínimo de estragos e tomar outro caminho. Nunca devemos produzir uma decisão sem deixar de contemplar alternativas para atingir o fim desejado. Imaginem só o que seria decidir comer castanhas sem contemplar a possibilidade de deitar uma fora. Ia ser bonito logo que encontrássemos uma com bicho!

Vamos então deixar o bébé descansado e passar ao que lhe dá origem, na maior parte dos casos. O casamento.

(continua)

Conferência O PROCESSO DE DECISAO - Magalhães Pinto - Vila Real - Novembro de 1993

Sem comentários: