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6.11.07

CRÓNICA DA SEMANA

Portugal vai a caminho dos novecentos anos de idade. Mais ou menos, trinta gerações. Apenas. Isto é, os nossos avós ao tempo de D. Afonso Henriques ainda mal tiveram tempo, em termos históricos, para arrefecer no túmulo. Trinta gerações que fizeram o que somos. Trinta gerações que tiveram momentos de apogeu e glória. Mas que também tiveram as suas crises – a independência, a independência, a independência, as sequelas dos descobrimentos, a queda do absolutismo, a queda da monarquia, e os diversos incidentes da República, para só falar nos mais marcantes. Não tendo vivido essas crises nem lhes sentindo as consequências, é muito difícil compará-las com as que vivemos hoje. Tenderemos, mesmo, a desvalorizar a sua dimensão e o esforço de superação necessário para que pudéssemos chegar a hoje tal e qual somos. Mas, mesmo descontando os exageros da História contada pelos historiados, fica o sentimento de que tal esforço colectivo foi muito grande. Provavelmente, em alguns casos, muito maior do que o que haveríamos de fazer para superar as actuais crises.

Só que os tempos eram outros. As crises do passado, endógenas ou exógenas fossem elas, careciam duma solução que era essencialmente endógena. Era quem às consequências da crise estava submetido que tinha de encontrar portas de saída e forçá-las até que se abrissem. As crises modernas não são assim. Continuam a exigir uma boa dose de esforço próprio, mas já não estão tão disso dependentes. É como se as crises também tivessem sido objecto de globalização. Um só exemplo. Muitas dos cortes que têm vindo a ser feitos naquilo que do Estado recebemos em contrapartida dos impostos que pagamos tem como origem, também, as imposições de Bruxelas. Não tivéssemos nós aderido à Comunidade e ao Euro e, provavelmente, a nossa classe política não faria nem metade dos cortes. Logo, a solução das crises internas passa hoje pelas malhas de um tecido que cobre uma comunidade mais vasta do que a nacional, por issso condicionando a solução.

Estas reflexões têm-me conduzido, por vezes, a uma outra. Que é constituída essencialmente pela tentativa de encontrar resposta para a questão seguinte: como será Portugal daqui por outras trinta gerações? É uma questão que tem tanto de atraente – pela excitação intelectual que cria – como de fútil – pela natural ausência de resultados palpáveis. Quando alguém me perguntava, em criança, "que queres ser quando fores grande?", eu respondia sempre que "o futuro a Deus pertence". Nunca dando atenção ao comentário de meu pai que, também sempre, rematava: "Deus pode ajudar, mas o teu futuro vai ser feito por ti". A verdade é que é legítimo colocar a questão de saber se Portugal será eterno.

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Excerto da crónica CRISES - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 7/11/2007

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