Juro que entendo o Governo. Mas o Governo parece não nos entender. Ou melhor, parece não entender a espiral de desconfiança que está gerada. A qual apenas pode redundar na falência do Estado de direito. Com a trágica consequência de o Estado de direito sermos nós todos. Ou é colocado um ponto final na bagunça fiscal em que o país está transformado ou não auguro nada de bom.
Apertado por um Orçamento deixado à solta tempo de mais, apertado pelas ordens vindas de Bruxelas, apertado pelas suas próprias afirmações e estimativas de défice, o Governo tenta reequilibrar um barco à deriva. Entendo-o. Tenta encontrar tostões em tudo quanto é sítio. E como os velhos caçadores de tesouros, abre buraco atrás de buraco.
***
O Governo, ao contrário dos Contribuintes, deve viver num país das maravilhas. Presumir que não há crises, que o desemprego crescente não arrasta a margem de manobra económica e financeira do pequeno empresário, que a margem de lucro é esmagada em tempos difíceis, que todos os negócios são iguais.
***
Faço um desafio ao Governo: que mande alguém comigo fazer as contas de tantas pequenas e médias empresas, de tanto pequeno comerciante. O qual, pura e simplesmente, não vai poder efectuar, por falta de recursos, os pagamentos por conta do IRC. E ninguém pode pedir a ninguém que faça mais do que aquilo que pode. Vão chover, portanto, os não pagadores do estabelecido pela Lei. E, desta vez, nem sequer vão ficar à espera dum qualquer perdão de juros para pagamentos atrasados. Porque não podendo pagar agora, nunca mais vão poder pagar.
***
Excertos da crónica O PAÍS DAS MARAVILHAS - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 24/11/2001
Sem comentários:
Enviar um comentário