(continua)
Comboios vindos dos quatro ventos tinham despejado no Entroncamento, durante a noite, soldados de todo o Portugal. Percebia-se, pelos sotaques, quem eram os alentejanos, os beirões, os transmontanos, os tripeiros. Mas eram sobretudo os madeirenses e os açorianos que melhor mostravam donde vinham. Jorrge, querro fumá... tens tabáque? A maior parte amontoava-se numa das plataformas, onde era previsto sair o tranvias para Abrantes. Ficaria quase vazio em Santa Margarida. Três horas para três estações. Pedaços de dez minutos de marcha entremeados com paragens de quase uma hora nos apeadeiros intermédios, para cargas e descargas. Paragens a serem aproveitadas por quase todos para dormir. No cedo silêncio da manhã, com o comboio imobilizado, os assentos de madeira sabiam a colchão de plumas.
A estação é no vale. E o aquartelamento fica lá em cima, na colina. O comboio deteve-se, com um estridente chiar dos freios. As portas das carruagens abriram-se. Um torrente interminável de militares jorrou das portas abertas. Formaram-se alguns grupos. Pressentia, cada um deles, ter um destino comum aos demais, a partir de agora. Mário deixou-se ficar para trás e observou a longa fila a serpentear estrada acima. Formigas. Cada qual levando às costas os seus magros pertences. Tinham deixado, nas suas anteriores Unidades, a maior parte dos haveres fornecidos pelo exército aquando da incorporação. Iriam receber um outro enxoval. O camuflado. Arabescos verde e castanho já a simular a selva. O fato de caqui amarelado, Em duas versões. Calções e calças compridas. Os calções emprestarão aos homens um aspecto desportivo. Ar de caçador. As presas serão gente. Botas novas para marcha. Outro par de lona e borracha. O quico. O quico era cómico, pensou Mário.
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Magalhães Pinto
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