(continuação)
O resto da tarde era livre. Mário procurou o Álvaro e o Manel por entre a chusma. Tinham-se conhecido na escolha de quartos. Alguma cama vaga aqui, malta? Da porta, o Manel procurava encontrar um poiso. Já lá estavam o Mário e o Álvaro. Ainda havia uma por ocupar. Há gajas aqui?, insistiu o Manel. Não é por nada, rematou. Se houvesse, sempre me poderiam limpar a arma. Nenhum de vocês era limpador na vida civil, pois não? Bom, vou ter que ser eu a limpá-la, concluiu, fazendo o gesto elucidativo de quem pega na vareta e esfrega o interior do cano. E arrumou-se, sentando-se na cama disponível, sob o riso dos parceiros de quarto. Sairam do quartel, explorando o campo. Assim ficaram a saber que, para além da igreja, havia um cinema privativo, com sessões às terças, quintas e sábados. A igreja não estava aberta. Isso não impediu o Álvaro de ter alguns momentos de recolhimento ao passar em frente à porta. Escoaram, assim, o tempo até à refeição da noite. Ainda não sabiam nessa altura. Mas as suas vidas escoar-se-iam, ali, durante os próximos seis meses. Tinham sido feitas já todas as rendições do ano. A mobilização daquele batalhão tinha razões alheias às necessidades operacionais. Ficaria em Santa Margarida a aguardar embarque até Março do ano seguinte. Para os soldados com pouco tempo de tropa, era o mesmo. A peluda, sabiam eles, não chegaria antes de decorridos três anos, fossem ao Ultramar ou não. Mas para os apanhados já em vésperas de sair, como o Mário, cada dia passado ali apenas aumentaria penosamente, até ao limite do suportável, o tempo total de serviço a cumprir.
(continua)
Magalhães Pinto
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