(continuação)
XII
Guiné. Estavam desfeitas todas as dúvidas. Desta vez, tinha sido o próprio comandante a dizê-lo. Os boatos não tinham mais razão de ser. Durante os últimos três meses, não houvera dia sem o sussurro geral de um novo destino. Alguém mais optimista tinha mesmo sugerido umas férias bem passadas em Timor. Finalmente, não havia mais dúvidas.
Cada boato tinha, nessa altura, uma conotação própria no espírito dos militares. Angola era sempre a província menos desejada. Lá tinham começado os trágicos acontecimentos. De lá se dizia ser o teatro de guerra mais violento e mais perigoso. No entanto, todos sabiam ser o destino mais provável. Mais de sessenta por cento das forças expedicionárias eram destinadas a Angola. Havia quem desejasse Moçambique. Aquela tripinha de território era muito longa e só havia tiros bem no Norte. A guerra estava ausente de muitos locais em Moçambique. Além disso, os guerrilheiros não tinham, em Moçambique, muitos aliados exteriores onde se acoitarem. A África do Sul e a Rodésia estavam, nitidamente, ao lado de Portugal. Os regimes de domínio branco aí existentes, aconselhavam a solidariedade internacional e no terreno. A defesa própria começava na casa do vizinho. O Malawi, embora mais discretamente, também apoiava a presença portuguesa. Só a Tanzania e a Zâmbia podiam constituir quartel-general para os actos de subversão em Moçambique. Talvez por constituir a província mais desejada para grande parte dos militares, Moçambique tinha sido o destino ganhador nos boatos que foram surgindo.
(continua)
Magalhães Pinto
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