. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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5.11.07
OS HERÓIS E O MEDO - 76º. fascículo
(continuação)
Pam pam... pam pam... pam pam... pam pam... O ruído dos trens das carruagens nos carris assemelha-se imenso a uma metralhadora em séries de dois tiros. Deve ser para nos irmos habituando. Se eu pudesse, soldava os carris. Odeio o som dos tiros. Nem na carreira de tiro os suporto. Mas os carris não podem ser soldados, senão entortam-se todos com o calor do verão. Será que se notava? Afinal, está tudo tão torto à nossa volta. pam pam... pam pam... pam pam... pam pam... Raio de barulho que não me deixa dormir! Se calhar é um segredo de polichinelo, como assentar a linha. Aplainar a plataforma no terreno. Prender os carris às traves e assentar o conjunto na plataforma. Estender o balastro de granito por cima. E depois... e depois, com uma alavanca, puxar os carris para cima do balastro, fazendo este deslizar entre as traves. Até a linha estar certinha, direitinha, toda à mesma altura. Com os carris separados, de longe a longe, pelo intervalo de dilatação. Por isso... pam pam... pam pam... Não é muito diferente conduzir abulicamente um país e assentar os carris duma ferrovia. Prender às traves mestras. Colocar uma montanha de balastro em cima. E, depois, umas alavancas até estar tudo direitinho, alinhadinho. E, sobretudo, dividir os carris, dividi-los sempre, evitando ajuntamentos. Os ajuntamentos são proibidos pela Constituição. Por aqui se vê como estamos preparados para a guerra. Aprender a gerir comboios. Aprender é um modo de dizer. Em Lisboa, a maior parte dos instrutores chegava já a sopa do almoço estava na mesa e desenfiava-se ainda a mastigar a sobremesa.
(continua)
Magalhães Pinto
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