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17.3.11

OS PORTUGUESES - XL


Este receberá, plácido e brando,
No seu regaço o Canto que molhado
Vem do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baxos escapado,
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será o injusto mando executado
Naquele cuja lira sonorosa
Será mais afamada que ditosa.


"Nesta estância (X, 128) de Os Lusíadas, que o poeta coloca na boca da deusa Tétis, na Ilha dos Amores, ao profetizar a Vasco da Gama e seus companheiros os futuros acontecimentos do Oriente, se encontra uma prova indirecta de que então Luís de Camões trabalhava o seu poema, a custo salvo do naufrágio.

Muitas poesias suas deste período revelam as condições desfavoráveis em que decorria a sua vida na Índia e o desgosto com a incompetência, injustiça e corrupção que o rodeavam. A desilusão do presente dourava a seus olhos os feitos dos grandes homens do passado, que haviam estabelecido o poderio português no Oriente.

As críticas livres dos seus versos, reflexo certamente de outras que fazia em comversa com os amigos, feriram os poderosos. Terá sido, por isso, objecto de injustiças e vinganças. Em uma ocasião, pelo menos, terá sido preso por dívidas.

Por vezes, assaltava-o uma funda saudade da pátria, de uma outra vida, e cantava, de lágrimas nos olhos. imitando o salmista judeu que no Antigo Testamento exprimira, quando cativo na Babilónia, a nostalgia de Sião ou Jerusalém distante."

(Fonte: História de Portugal, dirigida por João Medina)

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