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10.4.08

OS HERÓIS E O MEDO - 230º. fascículo

(continuação)

Quando Mário e Álvaro chegaram ao posto de rádio, as comunicações com Cutia tinham sido cortadas. Os esforços do radio-telegrafista para estabelecer contacto só tinham por resposta o ruído característico do éter. Os que tinham assistido, desde o início, à reportagem surrealista contavam em alvoroço. Enquanto as comunicações tinham durado, as ondas chegavam cheias de emoção. O fragor da batalha quase abafava a voz do telegrafista. Alertado, António Soveral tinha seguido, ao lado daquele, o desenrolar dos acontecimentos. Tinha pedido que o Manel viesse ao rádio. Para explicar, ele próprio, o que estava a suceder. De Cutia, alguém dissera não ser possível. Não se sabia onde o Manel estava e era preciso manter aberta a via rádio. A situação parecia ser séria. Subitamente, o rádio emudeceu. O capitão Alves tinha já ordenado a saída duma coluna de socorro. Antes de cortadas as ligações, a situação no fortim parecia aflitiva. Devia tratar-se de um ataque mais determinado do que habitualmente. Os Unimogs ronronavam na parada, à espera de ordem de partida. Homens a granel, alguns de chinelas e cuecas, com as cartucheiras à volta da cintura e G3 na mão, subiam para as viaturas, aos baldões. Mário e Álvaro juntaram-se ao grupo, depois de se irem pelas armas e munições. E partiram para Cutia. Desta vez sem picadores à frente, à cata de minas. Uma loucura. Os guerrilheiros não eram tão inocentes que não previssem a ida de socorros de Mansoa. Mas ninguém se lembrou disso. No espírito de toda a gente moravam apenas os camaradas em aflição a trinta quilómetros dali.

(continua)
Magalhães Pinto

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