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26.4.07

A DUVIDA - 48º, fascículo

(continuação)

Ainda em casa, aproveitando a ausência de Maria do Céu no quarto de banho, rebuscara-lhe a bolsa, à procura de meio bilhete dum cinema qualquer. Sobressaltado pela incorrecção do gesto e pela proximidade de Maria do Céu, de um momento para o outro a irromper na sala, a pesquisa fora imperfeita. Mas não tanto que me não desse a certeza de lá não estar. Nada de mal! Eu próprio, não me recordava de alguma vez ter guardado os bilhetes usados das sessões a que assistia. Porque havia Maria do Céu de guardar o seu, se não esperava vir a precisar dele? Saí, confundido com a sordidez da minha atitude, depois de um beijo que me soube a figueira. Sem paciência para esperar, comprei o meu jornal no primeiro quiosque, ao voltar da esquina. Fui direito à página de espectáculos. "Um Lugar ao Sol". Lá estava. No Rivoli. Por este lado, tudo certo. Nada mais natural do que, dali, dar um salto à Regaleira, ali a dois passos.


Imagina, Maria do Céu, cheguei a sentir remorsos da minha dúvida, mal vi o jornal. Um pequeno indício parecia tornar verdadeira a tua versão. Ah! Se eu fosse, então, um homem a quem bastasse um pequeno indício!... Teria passado o resto do dia tranquilo e, ao regressar a casa, à noite, ter-te-ia coberto de carinhos, no desejo de neles afogar os remorsos da dúvida injustificada. Mas não sou... não era. E esse haveria de ser, então, o meu mal, como em tantas vezes outras

(continua)
Magalhães Pinto

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