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24.6.07

CRONICA DA SEMANA (I)



Dentro do automóvel, vinha um casal e um pequeno cão. Cadela, vim a saber mais tarde. O condutor parou o veículo. Dorogou-se à porta de trás. Abriu-a. Tirou o cão para fora do automóvel. Puxando-o por uma trela. Soltou-o. Não se deu ao trabalho de lhe retirar a coleira. Solto, o cão - que eu viria depois a saber ser uma cadela, foi ao encontro da árvore mais próxima. Cheirou-a. Recheirou-a. E aninhou-se para urinar. Foi então que soube ser uma cadela. O dono voltou a entrar no carro. Se olhou para trás, foi pelo retrovisor, porque não voltou a cabeça por um momento sequer. Arrancou. A cadela pareceu não dar por isso. Andou por ali. Na manhã seguinte, via no jardim do meu prédio. Começou a fazer de um recanto a sua casa. A comer do que caía. Foi emagrecendo.

Mas há muitos cães vadios por esta zona. Ou semi-vadios, o que dá no mesmo. O cio deve ter chegado, se é que não estava já na cadelita. Resultado: três rebentos. Cadelas também, todas. Quando chegaram, o corpo da cadela era um crivo já. De carraças. Engordando à custa do seu sangue. Recriando-se. Enquanto a cadelita abandonada ladrava a quem ousava aproximar-se das filhas. Pequenota, parecia, à força de gritar, brava como uma leoa. Na vizinhança, para quem a história do abandono era conhecida, todos se compadeciam da sorte do bicho. Mas não tinham outra solução. O máximo que podiam fazer era ir dando de comer à família alargada. Que os pais dos jovens canídeos não estavam para preocupações, como usa ser com todos os vadios. Ou semi-vadios, o que dá no mesmo.

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Enquanto isto se passava, uma outra família, longe dali, estva preocupadíssima com o último rebento da família. Um bébé de meses. Temperaturas elevadas resistiam a todos osn tratamentos. O único sintoma visível era febre. O mºedico da família ia ensaiando tratamentos para as doenças mais vulgares dos bébés, susceptíveis de apresentar esse sintoma. Sem resultado. A doença estava indominável. Até que, numa revista que passou a todo o corpo do bébé, o médico notou que o umbigo apresentava uma pequena vermelhidão, já bem no seu interior. E, no meio do vermelhusco, havia um ponto negro. Sem saber o que ia encontrar, procurou arrancar o ponto negro. Conseguiu. Era uma pequena carraça. E a doença do bébé era a febre da carraça. A criança melhorou rápidamente depois disso.

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Os dois casos não têm a ver nada um com o outro, a não ser uma coisa: cães abandonados são um duplo problema. Um problema de saúde pública, pelas doenças que podem transmitir ao hoomem. Um problema de humanidade, já que devemos cuidar dos animais abandonados. Donde retiro ser urgente que as Câmaras disponham de um serviço de recolha de animais abandonados, para tratar deles e conseguir depois colocá-los, por meio de parcerias, em quem tome contta deles. Pequenas coisas. Mas importantes.

Crónica PEQUENAS COISAS - Magalhaes Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 25/6/2007

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