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28.6.07

A DUVIDA - 109º. fascículo

(continuação)

A minha busca desesperada, no prédio de Gonçalo Cristóvão, pareceu não ter fim, Maria do Céu. Sentia uma fadiga enorme. Mas não no corpo. Esse parecia uma nuvem de tempestade, antes da ejaculação eléctrica. Um redemoínho de nervos, de ansiedade. Mas aquele se, enorme, agigantado a cada instante, parecia ter-se incrustado em cada circunvolução do meu cérebro. A imaginação, de fatigada, dava voltas sobre si mesmo, retornando ao ponto de partida a cada andar cumprido. Creio ter perdido, mesmo, o sentido do real. Não era já uma alma desperta, atenta, crítica, sedenta de verdade. Era uma máquina em movimento eterno, apesar de inanimada. À força dos gestos repetidos, o significado do meu acto fora alienado. Rafeiro sem faro, pensava eu, perseguia uma presa inexistente feita de odores por inventar.

Obstinado, prossegui a pesquisa. De fotografia na mão. Sabe, é uma conterrânea de quem ando à procura e que me disseram trabalha ou trabalhou aqui. Não?... Nunca a viu? Nem nas escadas ou nos elevadores? Obrigado... Uma vez. Outra. Outra ainda. Dez vezes. Quarenta. No escritório de um dos advogados que exercia no prédio, cheguei a ter uma réstea de esperança, quando a recepcionista vacilou, mirou e remirou a fotografia. Não me é de todo estranha, esta cara. Onde foi, Helena, que tu já a viste, onde foi? Não... deve ser engano. Aquela cara era parecida com uma cliente, visita do escritório por via do seu divórcio. Vira-a, pela última vez, já há mais de três meses. Nunca há dois ou três dias.

(continua)
Magalhães Pinto

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