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25.6.07

A DUVIDA - 106º. fascículo

(continuação)

A Dona Néné abriu-me a porta do apartamento. Atarracada. De chinelos e bata, ar de dona de casa afadigada na lide. Fui... fui eu que passei agora mesmo lá por cima. Introduziu-me numa sala pequena, televisão ligada, meia dúzia de revistas espalhadas em cima duma mesa de madeira barata. Duas raparigas, ainda novas, saia muito curta, perna cruzada, a mostrarem generosamente a mercadoria. Podia escolher. Sentei-me e acendi um cigarro. Folheei as revistas. Todas antigas. Todas com mulheres em fato de banho, seios meio nus na capa. Incentivo ao consumo. As raparigas olhavam-me com desfaçatez e um sorriso cúmplice a dançar-lhes no rosto. Sabiam estar em competição uma com a outra. Mas a disciplina da profissão obrigava-as a não ultrapassarem as regras duma sã concorrência.

Chamei a Dona Néné. Não era bem aquilo o pretendido por mim. Um amigo tinha-me falado duma tal Maria do Céu. Seria o máximo. E eu gostaria de experimentar. Agora, se possível, ou mais tarde. Não conhece nenhuma com esse nome? Olhe, tenho até aqui uma fotografia, emprestada pelo meu amigo. Um momento... É esta. Não. A Dona Néné nunca tinha visto aquela cara. Se o meu amigo ma recomendara, devia tê-la encontrado noutro sítio. Aquela rapariga nunca passara por ali. Abalado na convicção íntima de estar prestes a encontrar-me com Maria do Céu, perdi o acanhamento. Olhei-a fixamente, duvidando. Quase gritei, ao insistir. Tem a certeza?. O meu amigo afirmou-me que a encontraria aqui. A negativa foi firme. Era visível a sinceridade, pese embora a dissimulação ser a vestimenta diária de toda aquela gente. Ainda fiz uma última tentativa. Escolhi uma das raparigas e fui com ela para o quarto. Mostrei-lhe a fotografia. Nunca tinha visto aquela mulher. Gratifiquei-a generosamente, mesmo antes da prestação de serviços, não fora ela estar a confirmar a patroa com medo de represálias. Assegurei-lhe o segredo. Já não não queria ver Maria do Céu. Bastar-me-ia a confirmação da sua passagem por ali. Continuou a negar. E atirou-se ao trabalho. Esforçou-se por me excitar, encostando-se a mim, de modo provocante, mas em vão. A minha cabeça parecia um mercado de peixe na hora de descarregar, nada parecia estar no seu lugar. Mandei-a parar. Obedeceu a contragosto. Era uma profissional briosa. Era paga para atingir um objectivo e não lhe agradava ficar a meio da tarefa. Paguei à Dona Néné e saí.

(continua)
Magalhães Pinto

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