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16.7.07

CRÓNICA DA SEMANA (I)


Subitamente, surgiram diante da opinião pública vários casos demonstrativos da desumanidade com que algumas pessoas, efectiva e gravemente doentes, foram forçadas a trabalhar quando, devido á doença, as forças já lhes faltavam. São casos de uma desumanidade atroz, que nos levam a tentar saber o que está por detrás das cruéis decisões. São casos a mais para que pensemos que se trata apenas de manifestações das imperfeições do regime.
Nós sabemos que, no plano das baixas por doença e das reformas por idêntico motivo, assistimos, no passado, e porventura ainda estamos a assistir à existência de muitas fraudes, como, periodicamente, o nosso Governo nos faz saber através dos seus comunicados. E é mesmo de admitir que, face ao volume da fraude, o Governo tenha instruído os seus departamentos respectivos para serem muito duros e exigentes. Aliás, todo o comportamento do Governo tem sido no sentido de exemplificar e incentivar essa prática, a nível das relações entre os cidadãos e o Estado. Mas, precisamente porque é Governo e, por isso, Poder, não podemos admitir a cegueira que leva a tratar todos da mesma maneira, confundindo aqueles que realmente necessitam dos cuidados da sociedade com os muitos, que também os há, cujo objectivo é viverem parasitariamente à custa dessa mesma sociedade.
Estes casos trazem à superfície dois aspectos nos quais seria bom meditarmos um pouco. O primeiro é reflectir sobre a razão que levou já tantas pessoas a sofrerem em silêncio os maus tratos dos serviços do Estado. E, com franqueza, só encontro duas razões. A primeira é a de essas pessoas terem medo de se manifestar, acreditando que qualquer manifestação sua pode tornar ainda pior a sua situação. A segunda é a de as vítimas acreditarem de que de nada lhes serve manifestarem-se, já que não resolverão nada. Em qualquer dos casos, é extremamente lamentável que assim suceda. E temos nós, os que ainda vamos tendo uma voz pública, que amplificar aquilo que não são mais do que gemidos de quem sofre. É isso que tento fazer hoje aqui. Mais do que para dar alguma tranquilidade à minha consciência, para ajudar os muitos mais que seguramente ainda há por aí.
A segunda razão em que vale a pena meditar é o aparecimento em público do Senhor Primeiro-Ministro a dizer que se sentia incomodado com o sucedido a essas pessoas. Fica-lhe bem dizer isso. Mas não o desculpa. Porque o acontecido só foi possível porque os agentes públicos que produziram e produzem as desumanas decisões só o fazem porque se sentem incentivadas pelo nível de arrogância e prepotência que colhem dos seus superiores, com particular relevo para os membros do Governo. E, para começar, é essencialmente isso que não pode acontecer.

Crónica CASOS A MAIS - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 17/7/2007

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