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27.7.07

A DUVIDA - 136º. fascículo

(continuação)

O comando veio em voz de surdina, mas imperiosa. Dispa-se da cintura para baixo e deite-se nessa cadeira. O mais confortavelmente possível, Maria do Céu cumpriu a ordem como se já estivesse anestesiada. Procurai ajudá-la, mais com o intuito de me interpor entre o anestesista e ela do que com o sentido de utilidade. Ajudava-a pela primeira vez a despir-se sem ser para um acto de amor. O aspecto de Maria do Céu seria imensamente ridículo, se não fosse indigno. Pelo tempo de vida de um fósforo, arrependi-me de ter chegado ali. Arrependimento logo silenciado pela recordação de Paris. Deitou-se na cadeira, pernas estendidas, cerradas, levemente sobrepostas, numa tentativa vão de esconder o púbis. Peguei num pequeno lençol, de dois ou três que estavam na marquise ao lado, e estendi-lho sobre o ventre, pequeno tecto para tanta vergonha.

(continua)
Magalhães Pinto

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