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15.7.07

A DÚVIDA - 124º. fascículo

(continuação)

Entraram na residência do Miguel. Era pouco mais do que um quarto. Uma cama individual a um canto. Uma varanda cheia de flores. Tocara nelas. Do outro lado do pátio, uma mulher estendia roupa a secar. Percebeu o Miguel de pé, atrás dela. Sentia uma respiração pesada, algo ofegante, a tocar-lhe a nuca. Expectante, abúlia, mas excitada pela situação, não se mexera durante longo tempo. Recordava-se ter esperado, durante a eternidade em que tinham ficado assim, imóveis, sentir o Miguel abraçá-la. Sentira, com o passar do tempo sem que ele lhe tocasse, crescer em si o orgulho de uma vingança. Ali estava ele, desejoso de a ter, certamente, como os patos do "Borboleta Negra". Sem ousar tocar-lhe. Com receio de deitar tudo a perder, estava segura. Sentiu o enorme poder do desejo que inspirava, capaz de paralisar um macho temeroso de ver fugir a fêmea escolhida. Quisera levar mais longe a vingança. Voltara-se lentamente, já plenamente senhora de si. Olhara-o, provocantemente, como fazia lá, na vida, quando a necessidade de um cliente apertava um pouco mais. Passara a língua lentamente sobre os lábios, deixando-os húmidos. Sorrira. Podia ver, agora, o desejo a fumegar nas pupilas de Miguel, fixas nos seus seios. Passou por ele, roçando-o nos seus braços. E fora sentar-se na cama. Podia ver o volume do sexo excitado de Miguel a enfunar as calças, mal encoberto pelas abas do casaco. Com um desejo enorme de despertar o animal nele existente em Rala, projectara os seios para a frente, na sua direcção, e cruzara as pernas, deixando a saia escorrer pelas coxas inclinadas, expondo-as generosamente. Fizera apelo a toda a ciência de bordel adquirida. Cruzara e descruzara as pernas várias vezes, para o deixar entrever o slip.

(continua)
Magalhães Pinto

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