(continuação)
Chamaram por Maria do Céu. Levantou-se penosamete, a contrastar com a minha ligeireza nervosa. De início, não me queriam deixar entrar na, pomposo nome, sala de operações. Mas insisti com firmeza, intitulando-me marido. A minha decisão calou resistências. A clandestinidade do acto exigia descrição e ausência de conflitos. Acabaram por permitir. A recepcionista introduziu-nos naquilo que era apenas um consultório. Quade nu- Uma secretária. Com uma taça de vidro, dentro da qual se encontrava uma luva de borracha prenunciadora da função, arrumada a um canto. Uma cadeira obstétrica, com o repouso dos calcanhares erguidos para o céu, como duas mãos numa prece. Um armário, com alguns frascos e instrumentos metálicos dentro. Um candeeiro, de luz difusa mas forte, pregado no tecto. Fixei-o longamente, atraído por aqueles dois olhos luminosos, a olhar para nenhures, testemunhas silenciosos dum acto criminoso, mas necessário. Um homem, de bata branca a justificar o preço da intervenção. Anestesista, vim a saber depois. Um fantasma, pensei eu, quando tardiamente dei pela sua presença.
(continua)
Magalhães Pinto
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