
As eleições em Lisboa proporcionaram resultados que trouxeram, até ao universo político, algumas mensagens importantes. Mal irá se os actores políticos que temos no nosso país não lhes derem grande importância.
A primeira mensagem, mais imediata, foi a de os lisboetas não queriam que a Câmara tivesse caído. A recusa de comparecimento nas eleições de mais de dois terços dos eleitores diz isso com clareza. Se os eleitores lisboetas estivessem desejosos de que a anterior administração municipal tivesse sido posta fora, teriam comparecido, senão em massa, pelo menos em termos costumeiros na eleição da nova Câmara e não teriam feito do anterior presidente o verdadeiro grande vencedor da noite.
A segunda mensagem é, porventura, mais grave. Os resultados obtidos pelos candidatos independentes conjugados com o nível de abstenção retratam, de modo iniludível, o divórcio entre os eleitores e os partidos políticos. Uma situação gravíssima de descrédito na democracia. Situação que será muito difícil inverter. Modificar esta situação exigiria o aparecimento de um partido capaz de vender sonhos aos portugueses. E a situação do país é de molde a não permitir a existência de sonhos. Assim, provavelmente, estamos na presença de um divórcio para ficar. Para fechar o círculo, se estamos perante um divórcio sem remédio, como é que se mobiliza todo um povo para as tarefas ingentes que havíamos de realizar para ficarmos melhor? Uma pescadinha de rabo na boca, perante a qual quem está frito é o cidadão.
A terceira mensagem – num entendimento que o Partido Socialista se esforça por ocultar – é que o PS, não obstante ter ganho a Câmara, também foi um dos grandes derrotados da noite. Apesar de ter tudo a seu favor, teve menos 23% de votos do que nas últimas eleições autárquicas, nas quais foi derrotado. António Costa é o Presidente de Câmara com menos votos em relação ao universo eleitoral de toda a história da democracia. Atirar foguetes e cantar hossanas a uma vitória dita esmagadora é pura maquilhagem do que verdadeiramente aconteceu. Ganhou a presidência, mas não ganhou as eleições. De facto, apenas houve um vencedor absoluto – Carmona – e um vencedor relativo – Roseta. O resto são histórias que o tempo mostrará serem apenas contos para meninos.
A quarta mensagem é, talvez, a mais triste. O povo de Lisboa disse, com estridência, que não acredita em nada deste jogo. Nem no árbitro, nem nos jogadores, nem mesmo na bola. E se isto sucede na capital do país, onde o nível de educação política tenderá a ser mais elevado, que havemos de pensar sobre o resto do país?
Quatro mensagens. Quatro más notícias. Quatro pedradas atiradas para o charco da política. Um charco que os portugueses estão convencidos ter apenas água fétida. Não estou nada optimista relativamente ao futuro.
Crónica AS MENSAGENS - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 24/7/2007
Sem comentários:
Enviar um comentário