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23.7.07

CRONICA DA SEMANA (I)


As eleições em Lisboa proporcionaram resultados que trouxeram, até ao universo político, algumas mensagens importantes. Mal irá se os actores políticos que temos no nosso país não lhes derem grande importância.

A primeira mensagem, mais imediata, foi a de os lisboetas não queriam que a Câmara tivesse caído. A recusa de comparecimento nas eleições de mais de dois terços dos eleitores diz isso com clareza. Se os eleitores lisboetas estivessem desejosos de que a anterior administração municipal tivesse sido posta fora, teriam comparecido, senão em massa, pelo menos em termos costumeiros na eleição da nova Câmara e não teriam feito do anterior presidente o verdadeiro grande vencedor da noite.

A segunda mensagem é, porventura, mais grave. Os resultados obtidos pelos candidatos independentes conjugados com o nível de abstenção retratam, de modo iniludível, o divórcio entre os eleitores e os partidos políticos. Uma situação gravíssima de descrédito na democracia. Situação que será muito difícil inverter. Modificar esta situação exigiria o aparecimento de um partido capaz de vender sonhos aos portugueses. E a situação do país é de molde a não permitir a existência de sonhos. Assim, provavelmente, estamos na presença de um divórcio para ficar. Para fechar o círculo, se estamos perante um divórcio sem remédio, como é que se mobiliza todo um povo para as tarefas ingentes que havíamos de realizar para ficarmos melhor? Uma pescadinha de rabo na boca, perante a qual quem está frito é o cidadão.

A terceira mensagem – num entendimento que o Partido Socialista se esforça por ocultar – é que o PS, não obstante ter ganho a Câmara, também foi um dos grandes derrotados da noite. Apesar de ter tudo a seu favor, teve menos 23% de votos do que nas últimas eleições autárquicas, nas quais foi derrotado. António Costa é o Presidente de Câmara com menos votos em relação ao universo eleitoral de toda a história da democracia. Atirar foguetes e cantar hossanas a uma vitória dita esmagadora é pura maquilhagem do que verdadeiramente aconteceu. Ganhou a presidência, mas não ganhou as eleições. De facto, apenas houve um vencedor absoluto – Carmona – e um vencedor relativo – Roseta. O resto são histórias que o tempo mostrará serem apenas contos para meninos.

A quarta mensagem é, talvez, a mais triste. O povo de Lisboa disse, com estridência, que não acredita em nada deste jogo. Nem no árbitro, nem nos jogadores, nem mesmo na bola. E se isto sucede na capital do país, onde o nível de educação política tenderá a ser mais elevado, que havemos de pensar sobre o resto do país?

Quatro mensagens. Quatro más notícias. Quatro pedradas atiradas para o charco da política. Um charco que os portugueses estão convencidos ter apenas água fétida. Não estou nada optimista relativamente ao futuro.

Crónica AS MENSAGENS - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 24/7/2007

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