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17.7.07

A DUVIDA - 126º. fascículo

(continuação)
XXIII

Não consegui interromper-te uma só vez, Maria do Céu, ao longo da tua descrição do reencontro com Miguel. Não sou mesmo capaz de ver qual de nós dois era o mais perturbado. A espessura dramática do momento fazia a tua voz soar aos meus ouvidos monocórdica, distante, tumular, como se uma muralha feita de himalaias se tivesse, repentinamente, erguido entre nós. Cada palavra tua era um crsital de gelo mais a circular no meu sangue. Rompia-me dolorosamente os tímpanos, apesar de átona. Rasgava caminho por todos os meus músculos imobilizados, até chegar ao coração e aí se incrustar, emparedando-o, como um mosaico transparente a impedir-lhe a palpitação. Cruelmente, como condutor de um blindado a esmagar tudo na sua passagem, A Vida fazia-me reviver dores ue julgava esquecidas, apagadas, cobertas pelas folhas de calendário lentamente caídas.

(continua)

Magalhães Pinto

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