(continuação)
Já tinha vivido situação semelhante. Com Isabel, a minha ex-mulher. Também devido a um filho. Nessa altura, inexistente. Casáramos no Mosteiro de Leça do Balio. Isabel provinha de uma família prolífica. Era a penúltima de seis irmãos e tinha tantos tios maternos que lhe não sei a conta. Ia virgem, como era exigido nesse tempo. O namoro não tinha ido além da exploração manual dos segredos do sexo. Só depois de casados, eu me apercebera de quanto lhe era essencial ter filhos, como se o brasão familiar dos Silvas ficasse enodoado pela sua ausência. Quando, durante o namoro, ela falava dos seus planos de ter um verdadeiro rancho em casa, eu ria-me, geralmente. Com ar brejeiro, dizia-lhe, nessas alturas, poder ela sempre contar com a minha colaboração. Creio ter sido um casamento de amor. E, verdade seja, tudo, nos primeiros tempos do casamento, parecia demonstrá-lo. De início, os nossos actos de amor aconteceram com a naturalidade de quem espera o que, necessariamente, acabará por acontecer. Era o tempo da sexualidade sã e disponível. Jovens, dávamo-nos quase todos os dias, fosse qual fosse a hora da minha chegada do jornal. Com o decorrer do tempo, sem que acontecesse qualquer gravidez, começáramos a falar nisso mais frequentemente. Por duas vezes se atrasara o período. Esperanças ansiosas, acentuadas por serem acompanhadas de sintomas próprios do estado, os apetites, os enjoos. Esperanças cada vez desfeitas com a consulta do m+edico.
(continua)
Magalhães Pinto
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