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29.7.07

A DUVIDA - 137º. fascículo

(continuação)

Na altura, não me lembrei disso, Maria do Céu. Mas, não resisto a perguntar-te. Quando penso no teu pudor, estendido na cadeira do médico, encontro mais um enigma indecifrável. A que era devida aquela vergonha, visível, quando estavas estendida na cadeira do consultório? Que diferença havia entre mostrares o teu sexo àquele homem, apenas profissionalmente interessado nele, e os muitos - quantos, Maria do CŽu?... Cem?... Mil?... Dez mil?... - que para ele tinham olhado com concupiscência? Tão só porque, para a rapariga de Rala, o trabalho não envergonhava, fosse ele qual fosse?


O anestesista pegou numa seringa e encheu-a cuidadosamente com o líquido duma ampola. Esticou um garrote entre as mãos, como um carrasco a experimentar o instrumento de morte, e apertou-o vigorosamente em redor do braço esquerdo de Maria do Céu. Corda de forca a estrangular a vida de dois seres, naquele instante. Picou-a duas ou três vezes, num jogo de escondidas com as ténues veias de Maria do CŽu. Descanse, tranquilize-se, que não vai doer nada, vai tudo correr bem. As frases do anestesista soavam a falso, naquela circunstância.

(continua)

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