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31.3.07

A DUVIDA - 22º. fasciculo

(continuação)

IV

Os escritores contam muitas mentiras nos seus escritos, Maria do Céu! Ainda não há muito, lendo um autor americano em voga, vira dito que o fenómeno humano mais perfeito era o Amor, com tudo inventado há muitos milhares de anos. Afirmava ele não haver, hoje, nenhum comportamento verdadeiramente original no diálogo entre os sexos. Nenhum gesto gesticulado, nenhuma palavra falada, nenhuma frase construída, nenhuma imagem imaginada, nenhuma carícia entregue, podiam já ser verdadeira criação, de tal modo o Amor fora, ao longo dos séculos contados pela humanidade, o fenómeno essencial da existência, dizia ele. Profunda mentira! Descrença inaceitável na capacidade de sentir e de criar das pessoas! Tomados todos em conjunto, podemos sempre fazer mais, podemos sempre fazer novo, podemos sempre ir mais além! E, nessa noite, Maria do Céu, com suavidade, pondo em cada gesto, em cada palavra, um rio de ternura, fazendo da meiguice uma imperceptível brisa apenas aflorando a penugem aloirada dos teus braços, passeando, deleitado, os meus lábios humedecidos por cada segredo do teu corpo, tacteando, com o frémito dos meus dedos medrosamente atrevidos, os teus seios, o teu ventre, o teu sexo, adormecidos, inventando inexistentes palavras, doces e a transbordar carinho, para, agora e logo, depositar nos teus ouvidos, num anseio de comunhão com a tua ausência sensível, banhando os teus olhos com um apelo para que apagássemos do nosso vocabulário o eu e o tu, deixando nós em primeira pessoa do singular, fazendo de cada célula do meu corpo um chamamento, unívoco parecia, de cada célula do teu à vida, ensaiando, tenuemente, a mais íntima carícia, no intuito de te provocar o mais sereno e vagaroso despertar jamais tido por uma mulher, cerrando-te nos meus braços fortes, de modo a não poderes escapulir-te do momento supremo em que o mundo ganha uma só dimensão, explodindo em galáxias de apenas luz, nessa noite, Maria do Céu, eu inventei o Amor! Acrescentei-lhe uma tonalidade até então desconhecida, mista de arco-íris e da côr de todas as flores! Desejando ser um sol a pino, escaldei o teu corpo, no intuito de fazer chegar à tua alma uma labareda da minha fogueira! Desejando ser um vendaval de equinócio, fustiguei a tua alma, no intuito de fazer estremecer o teu corpo! Fiz das mãos uma vagas enormes, dos beijos um ciclone, das palavras um terramoto, até que da carapaça que encobria o teu sentir não restassem senão destroços!

(continua)

1 comentário:

Aristoteles_Moderador disse...

Simplismente maravilhoso

Olha me adicione no msn, gostaria de indicações de alguns livros.

Obrigado

piech-2005@hotmail.com