. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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11.4.07
CRÓNICA DA SEMANA (II)
Em toda esta questão da licenciatura do Primeiro-Ministro, não raro dou por mim a estabelecer o paralelismo com um jogo de xadrez, A saída pertenceu ao seu adversário. Uma saída aparentemente fraca, de peão de bispo ou algo asssim. Os assistentes alvoroçaram-se. Estaria aí uma estratégia nova? O exército do Primeiro-Ministro - seguramente sobressaltado, como o desenvolver do jogo viria a mostrar – procurou desvalorizar a jogada. Um Primeiro-Ministro não precisa de licenciatura para nada. E, com aparente tranquilidade, abriu um pseudo-jogo, pelos flancos, como quem diz ao adversário: "Já perdeste!". Quem sabe, talvez o adversário desistisse da estratégia encetada ao ver tanto descanso do opositor.
Acontece, porém, que o adversário não foi na estratégia e continuou a avançar os seus peões. Um atrás do outro, de modo sustentado e apoiado. Sem envolver no jogo, ainda, as suas grandes forças. Foi aí que, saiba-se lá a razão, o terreno do combate ficou todo enlameado. A escola onde a licenciatura for a obtida entrou em processo de descrédito. Peões fundamentais para clarificar a batalha começaram a seguir os passos da escola. Passam, um a um, dos mais diferentes quadrantes, pela polícia, são declarados arguidos ou são mesmo encafuados na prisão preventiva. A batalha começa a ficar empastelada. A ver-se muito mal quem sairia vencedor da partida.
...
A verdade é que o exército de José Sócrates, já pressionado pelo tempo de jogo, foi perdendo terreno. Designadamente quando as duas torres do outro lado entraram em jogo. O "Expresso" e o "Público". Aí, houve (há?) verdadeiro alarme no dito exército. E a estratégia é subitamente mudada. Da calma com que a saída havia sido aparentemente encarada, passa-se aos movimentos frenéticos. José Sócrates coloca todas as suas peças em movimento. Com uma estratégia que, francamente, para mim, antigo jogador de xadrez, me parece suicida. A estratégia do insulto. O ataque adversário passa a ser "canalha". Bom. Tenho por certo que tanto um como outro dos referidos órgãos de comunicação social são tudo menos canalhas. E são, sobretudo, muito claros. Não é deles a culpa de o jogo do Primeiro-Ministro ter sido uma trapalhada desde o início. As contradições apareceram, as mini-irregularidades surgiram. Em termos escaquísticos, eles não fizeram senão explorar as fraquezas do jogo adversário. E os peões surgiram muito próximos do rei.
Estamos naquilo a que podemos chamar o final do jogo de xadrez. O momento em que o rei, até aí mero espectador do combate, desembaínha a espada e entra no combate. Vamos ver como o faz. O rei, embora sendo a peça menos movivel do tabuleiro, é todavia muito forte. Por uma única razão. O adversário não pode imobilizá-lo. A imobilização do rei, isto é, o seu posicionamento em condições tais que, não estando ameaçado de queda, não pode todavia mover-se sem cair em ameaça de derrota, dá um empate. Mas convenhamos que a posição, no tabuleiro, do Primeiro-Ministro é muito frágil. O "Público", na sua edição de 10 de Abril, colocava as coisas com muita clareza, numa longa lista de perguntas a que, agora, há que responder. Não adianta tregiversar. Se as coisas estão correctas, todas as perguntas são facilmente respondíveis. Embora esteja já a ver a estratégia final do Primeiro-Ministro e das suas tropas. Qual é a de dizer que ele não tem que provar nada. O ónus da prova é de quem acusa.
Se esta for a resposta, comvém que estejamos preparados para dizer algo. Que, em causa, não está a competencia técnica do Primeiro-Ministro para governar o país. Não está nem nunca esteve. Não estamos nesse plano. O que está em causa é a sua competencia moral para a função. Se, ainda por mera hipótese, admitirmos que o actual Primeiro-Ministro beneficiou, enquanto Secretário de Estado de um Governo anterior, de favores para obter a sua licenciatura, isso tem um nome muito feio: CORRUPÇÃO. Da qual ele, de um modo mais ou menos activo, mais ou menos passivo, teria sido parte. Se isso houvesse acontecido, teríamos o direito de chamar corrupto ao Primeiro-Ministro. E, obviamente, o país não poderia ser governado por um corrupto. Sócrates teria que sair.
A bem da Nação, fiquemos todos a rezar para que o Primeiro-Ministro forneça dados claros e inegáveis sobre todo este embrulho. E, se fornecer, com um grande suspiro de alívio, assistiremos à sua vitória na batalha no último instante, graças à fortaleza do rei.
Excertos da crónica O JOGO DE XADREZ - Magalhães Pinto - "Vida Económica" - 11/4/2007
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