(continuação)
Na infância, Maria do Céu não foi muito diferente das restantes crianças do sítio. Aprendeu a andar atrás da ninhada de pintaínhos, sob o cacarejar atento da "Amarela", anafada galinha que estaria na origem do seu primeiro e grande desgosto de miúda, quando acabou os seus dias, no baptizado do irmão seguinte, para dar lugar a almoço mais apaparicado. Muito cedo, ainda antes de frequentar a escola, quando um saco de dois ou três quilos deixou de ser pesado, começou a ir todos os dias à cortinha do Ti'Joaquim, por carejó e leitugas, para alimentar os coelhos, sempre em grande número e permanente reprodução, substancialmente compensada, porém, numa espécie de equilíbrio natural, pelo abate pendular de um coelho em cada domingo.
Fez a primária, com regularidade, no velho edifício do largo, onde uma só professora, todos os anos diferente, repartia os seus dias ensinando as primeiras letras e contas, de manhã, aos miúdos da primeira e segunda classes, e os rios e as serras e os reis, de tarde, aos mais graúdos das duas classes restantes. Aprendera quase tudo com facilidade; só lhe provocara alguma confusão aquela história do caminho de ferro; não conseguia perceber porque era preciso fazer estradas de ferro, quando de terra batida serviam muito bem, como se via pelas carreiras das três da tarde e das nove da noite, a levar e a trazer quem precisava de ir à vila. Mas tal confusão não fora suficiente para a impedir de chegar a bom destino, ao fim de quatro anos, quando dois professores, desconhecidos, tinham vindo apreciar o que ela, a Maria da Purificação, o Miguel, o Chico, a Rita e o Zeca tinham aprendido durante esse tempo todo.
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário