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16.4.07

A DUVIDA - 38º. fascículo

(continuação)

O dito teve o condão de lhe pendurar um sorriso nos lábios e predispô-la à visita a uma das discotecas da Foz.


É espantoso, Maria do Céu, como em momentos cruciais tomamos decisões aparentemente triviais que, com o tempo, vão influenciar as nossas vidas. Creio já to ter dito uma vez, mas não me importo de to repetir: a existência duma pessoa é um devir contínuo e nada do que fazemos, dizemos ou, sequer, pensamos, pode tornar-se independente, fechado, do restante. É a relação entre as contas e o fio dum colar; quebrado o fio num só ponto, a queda duma das contas faz cair todas as outras e, como conjunto, perderam a partir daí significado. Deixaram de ser colar. Por isso te repeti, tantas vezes: nenhum dos teus actos ou atitudes careciam de significado, eram triviais, sem importância! Como o não foi o convite que, nessa noite te fiz!

À quinta-feira, a frequência da "Choupana" era apenas mediana. No número e nas posses. Alguns grupos de jovens, poucos, não chegavam para esbater a predominância dos já maduros. E isto determinava maior comedimento do "disc-jockey" no peso das músicas postas a rodar, meio termo entre os rocks e os twists, então em voga, e as valsas e os tangos de vinte anos antes. As luzes piscavam menos e um ambiente de agradável serenidade era criado, nesses dias, na pista de dança e em derredor. Podia-se conversar sem necessidade de conhecer a leitura labial. Os lábios, se usados, eram-no em furtivos e românticos beijos, ainda raros e mirados quando em público.

(continua)

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