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22.5.07

CRONICA DA SEMANA



É atávico no nosso povo. Herdamos dos nossos tetravós e continuará conosco até ao fim dos tempos. Viver de quimeras. Atrás de quimeras corremos o Mundo. Atrás de quimeras implantamos a República. Atrás de quimeras fizemos o "25 de Abril". Atrás de quimeras continuamos a viver. Desprezamos o reconhecido facto de que só o trabalho produz riqueza, Preferimos viver do subsídio de desemprego ou da pensão de baixa médica a produzir a nosso consumo. Esquecemos que o que consumimos sem produzir mais tarde ou mais cedo deixaremos na rua. E, por ironia, ainda dizemos que "quem o alheio veste na praça o despe". Somos a expressão viva do anedotário mundial. Se repararmos bem, em todas as anedotas que conhecemos está retratado um concidadão nosso. Alguém gabou, um dia, as nossas excelsas qualidades, enquanto Povo. Uma quimera mais. Acontece assim, creio eu, porque temos vivido em crise desde a nossa fundação. Aliás, nascemos de uma crise familiar. Depois, é um nunca mais parar. Crise familiar que se reepete seis gerações depois. Logo seguida da crise entre vizinhos. Ultrapassada. Por um par de gerações. Logo regressa, com D. João II. D. Sebastião e respectivas sequelas a seguir. Os ingleses. Napoleão. A colónia a governar a terra-mãe. Os irmãos em guerra, absolutista ou liberal, como se queira. A República. E os anos que vão até 1926. O Estado Novo. A revolução dos cravos. A actualidade. É muita crise para um Povo só. Por isso, o regresso permanente à quimera, como barco de salvação de um Povo que cada vez menos se auto-justifica.

Mas poucas vezes, na nossa História, teremos vivido tantas quimeras simultaneamente. Revisemos.


A QUIMERA DO OURO

Pobretanas, vivemos da esperança de encontrar um tesouro. Em Jales e nas suas minas estará enterrado, dizem. Minas que explorámos já, até à saciedade.

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A QUIMERA DO PETRÓLEO

Mas as toneladas de ouro acumuladas em Jales, à espera de uma pá, são pouco. Temos que ter mais com que sonhar. Os sonhos devem ter a dimensão apropriada para nos fazer escapar da realidade. Quando mais dura a realidade, maior tem que ser o sonho. Vai daí, damos um salto até ao largo de Peniche. Pode ser que não. Mas tudo indica que temos petróleo. A raposa da fábula viu que as uvas estavam altas, nós temos o petróleo fundo.

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A QUIMERA DO ORÇAMENTO

Desde 1980 para cá, o Orçamento Geral do Estado só tem sido equilibrado com artifícios ou com a venda do património familiar. No "25 de Abril" roubámos património aos seus legítimos donos. A seguir, fizemos a pantomina do pagamento por dez réis de mel coado. Depois, sustentámos o Estado, vendendo por bom preço o que havíamos roubado. As empresas primeiro. Estamos agora na fase da venda do património imobiliário.

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A QUIMERA DO EMPREGO

Cento e cinquenta mil. A gente é assim. Quando sonha, sonha em grande. A começar por Primeiros-Ministros que prometem o que SABEM não serem capazes de cumprir. Imparavelmente, o desemprego continua a subir. Apesar do crescimento económico, que é a menina dos olhos dos nossos governantes. Ai é? Cria-se outra quimera.

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A QUIMERA DA LIBERDADE

Uma gaivota voava, voava. Voou. Para longe. Já não voa por aí. Só quem não está atento não reconhece. Basta atentar no caso do Professor Fernando Charrua, da Direcção Regional de Educação do Norte. Saneado. Por um crime hediondo. Contou, em voz alta, um chiste sobre a licenciatura do Senhor Primeiro-Ministro. Como disse Pulido Valente, eis o primeiro perseguido político depois do "25 de Novembro de 1975". Brincar com o Senhor Presidente do Conselho de Ministros está reservado apenas a ministros. Como Mário Lino, por exemplo, que colocou às gargalhadas uma numerosa plateia ao afirmar, em discurso oficial, que ele, sim, estava inscrito na Ordem dos Engenheiros.

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A QUIMERA DA RESPONSABILIDADE POLÍTICA

Afadigam-se numerosas vozes no combate ao aeroporto da OTA. Tontos. Nada fará demover este Governo de levar para diante o "seu" projecto. Vamos começar as obras da nova aerogare. Se as vamos acabar ou quando as vamos acabar é que não sabemos. Sabemos, sim, porque é que isso acontece. É que, quando dermos com os burrinhos na água, os decisores actuais estarão a milhas. Como Fernando Nogueira no BCP. Como Pina Moura na Prisa. Num futuro dourado, o deles. E não será possível voltar atrás e pedir responsabilidades. Ser político é ser irresponsável.

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De quimera em quimera vamos vivendo. Não importa a realidade. Fazer de conta está na moda. E, porque está na moda, até os governantes fazem de conta que nos governam. A seu tempo, nós faremos de conta que os premiamos ou punimos. Nas urnas. E nunca um nome foi tão apropriado. Urnas. O último agasalho. Aquele que vestiremos quando já não houver mais quimeras.

Excertos da crónica AS QUIMERAS - Magalhaes Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 23/5/2007

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