Pesquisar neste blogue

22.5.07

A DUVIDA - 74º. fascículo

(continuação)

A nossa alentada anfitriã loira estava na recepção. Sorriu-nos com simpatia. Tagarela, quiz saber algo de nós. De onde éramos. O que fazíamos. Há quanto tempo estávamos casados.

Há quantos anos estávamos casados, Maria do Céu... A dona da pensão viu bem que nos embaraçou. Mirámo-nos, quando te traduzi a pergunta, sem saber o que dizer. Ela ficou convencida, estou seguro, de que éramos dois amantes, numa escapadela a Paris. Gargalhámos todos, quando tu espetaste quatro dedos no ar, em simultâneo com o meu audível e francesíssimo dois. Na ocasião não me lembrei, mas hoje pergunto-me se o desajustamento das nossas respostas simultâneas não traduziria já algum enfado teu da minha companhia.


Ainda me diverti quando a hospedeira nos piscou cumplicemente um olho. Mas depois, quando ela nos perguntou quantos filhos tínhamos, não consegui disfarçar a minha irritação, perante a estupefacção de Maria do Céu. Filhos? Quase me apeteceu responder-lhe: uma! Parei a tempo, com um seco boa noite. Boa noite que não tive. Nem mesmo quando fiz amor com Maria do Céu. Durante todo o tempo que durou o nosso abraço, uma ideia fixa martelava-me as têmporas, ao ritmo dos movimentos enérgicos das minhas ancas. Talvez não fosse má ideia ter um filho de Maria do Céu. Se eu conseguisse...

(continua)
Magalhaes Pinto

Sem comentários: