. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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11.7.07
A VERDADE E A MENTIRA
Não é a primeira vez que transcrevo aqui pensamentos de um dos jornalistas espanhóis que mais aprecio: Federico Jimenez Losantos. A clareza do seu pensamento e a sua capacidade para chamar às coisas aquilo que ele pensa que elas são, sem eufemismos ou figuras de retórica a suavizar o que diz, atraem-me. E fazem da sua leitura um estimulante exercício da capacidade crítica.
Da sua obra DE LA NOCHE A LA MAÑAÑA (La Esfera de los Libros, 2006), retirei este saboroso pedaço de análise, hoje mais do que nunca também aplicável a Portugal.
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"Porque sempre haverá alguém, com sotaina ou sem ela, que, embora sabendo que se trata de um típico embuste propagandístico totalitário, não vacilará em sentir-se Galileu por um momento, prestará culto à hipocrisia e aos seus complexos direitistas e dirá com um falso sorriso, meneando um pouco a cabeça: 'Sim, mas isso de insultar está muito mal'. Isto, se não acrescentar como a última ouvinte de António (Herrero, um popular comentador da COPE, estação de rádio católica de grande audiência em Espanha): 'Não diga que é mentira; diga simplesmente que não é verdade, que é mais bonito'.
Mas não é mais bonito. É simplesmente muito mais arriscado porque quando o Poder mente - costuma ser o Governo, mas também pode ser qualquer outro poder político, económico, cultural, religioso ou mediático - e vê que há alguém diante de si que não só comenta que não disse a verdade mas também diz em voz alta que o Poder está mentindo, isto é, que não vacila em condenar com a palavra os seus feitos, esse Poder está sendo submetido a juízo diante dos ouvintes, leitores, telespectadores, accionistas ou eleitores, isto é, aqueles que lhe dão a sua força, o seu apoio, a sua legitimidade, aqueles que, em última instância, reforçam ou ameaçam o seu poder. E o simples facto de saber que há alguém capaz de exercer essa censura directa e em directo, de pessoa a pessoa, como permite a rádio, é um desafio que nunca deixa indiferente esse mesmo Poder. E, em geral, se pode eliminá-lo, elimina-o. Virão outros, sim, mas já não serão esse que o molestava. E enquanto não chegam, o 'castigo' tornará muito mais prudentes os que pretendam seguir o exemplo crítico.
A luta de poderes, tendente ao equilíbrio do Estado liberal, se este funciona, não se limita ao Poder Executivo, ao Poder Legislativo e ao Poder Judicial, antes é atravessada por essa luta diante da opinião pública que se desenvolve nos meios de comunicação e que, nos regimes democráticos, decide não só as eleições mas também os níveis de representação dos diferentes grupos sociais e, sobretudo, as ideias e os valores fundamentais que impregnam a política interna e externa, os modelos educativos e culturais, os comportamentos sociais de todo o tipo. E, no final, o comportamento básico de qualquer sociedade, que é o da relação do cidadão com o Governo ou, mais genericamente, do indivíduo com o Poder. Nessa relação, o factor de intimidação é essencial, mas entre o respeito e o medo há uma muito ampla gama de comportamentos e é o clima social que determina o equilíbrio entre a resistência e a coacção."
Federico Jimenez Losantos - DE LA NOCHE A LA MAÑANA - 2006
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Admirável reflexão. Na qual todos devíamos meditar, no quadro de muitos dos acontecimentos que, recentemente, têm surgido em Portugal.
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