
Há já a possibilidade, em Portugal, de sermos jurados de um julgamento em determinadas circunstâncias. Refiro-me a jurados formais, nomeados pelos tribunais, com assento no julgamento. Para os que não sabem, a função dos jurados, em tais casos, é ouvirem os argumentos de todas as partes envolvidas e, no fim, pronunciarem um veredicto sobre se o réu ou réus são culpados ou não. É uma função muito grave e muito delicada. Porque, da decisão produzida, assim resulta os presumíveis culpados irem para a cadeia ou ficarem em liberdade. Geralmente, os jurados tem a assistência do Juiz, que os guia no modo como a verdade há-de ser procurada. Geralmente, os jurados são prevenidos de que não devem falar com ninguém sobre o caso que estão a apreciar nem serem permeáveis ao que aparecer na comunicação social, a fim de que, a decisão de cada um seja aquela que realmente resulta da sua consciência.
Pois bem. Eu sei que o tribunal da opinião pública não manda ninguém para a cadeia. Mas não é por isso que é menos grave ser jurado nesse tribunal. Por vezes, o tribunal da opinião pública chega a ser mais cruel e a sua condenação mais grave do que ir para a cadeia. Um jurado no tribunal da rua tem a obrigação de ser tão consciente como os jurados formais que são nomeados pelos tribunais. Temos a obrigação de duvidar de todas as provas até que elas sejam irrefutáveis, assim como temos o dever de considerar o réu ou os réus inocentes até que as provas acumuladas não deixem a mínima dúvida de que são culpados.
Esta é, porventura, a mais grave e a mais difícil consequência do quase desaparecimento do segredo de justiça para que devemos estar conscientes e despertos.
Crónica OS JURADOS - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 23/9/2007
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