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29.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 39º. fascículo

(continuação)

V

No quartel, António Soveral tranquilizara-se com a notícia do regresso da filha a casa. Sentia o silêncio em seu redor. Apagou a luz. Mas não adormeceu. Oxalá a prevenção acabasse no dia seguinte. Devia insistir no Ministério. Aquilo que estavam a fazer ao filho Ricardo era uma injustiça. Ninguém pode ordenar o suicídio a ninguém. E, todavia, fora isso que o "Velho" decretara, senhor todo poderoso duma nação inteira. Pobre do filho. Primeiro, o cativeiro na Índia. Embora sem perigo de maior, não tinha sido propriamente a estadia numa estância balnear. Depois o regresso, dificilmente negociado. A invasão de Goa, Damão e Diu tinha sido o prenúncio do que aí vinha nas restantes províncias ultramarinas. A violação de um direito adquirido em séculos de ocupação. Nem o nosso velho aliado, a Inglaterra, capaz de algum poder de influência junto da União Indiana, membro da Comunidade, nos valera. Oxalá a Índia não fosse o prenúncio do fim do Império. Aliás, a invasão da Índia Portuguesa estava seguramente inserida numa estratégia internacional de mais vasto alcance. Entendia-se porquê. Era a parte mais vulnerável do império colonial português. Era a que estava mais longe, excluindo a quase esquecida Timor. Não representava interesses económicos suficientes para conduzir os Portugueses a uma defesa excessiva. E não tinha sequer a justificação da colonização religiosa e civilizacional. Quando os Portugueses chegaram à Índia, já lá existia uma civilização tanto ou mais desenvolvida do que a europeia.

(continua)
Magalhães Pinto

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