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30.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 40º. fascículo


(continuação)

António Soveral compreendia dificilmente a atitude do "Velho" para com os militares regressados do cativeiro na Índia, entre os quais o seu filho Ricardo se incluía. Percebia dever Portugal mostrar-se ofendido e decidido a guardar o seu império. Ai de Angola e Moçambique se o mundo percebesse que Portugal não se ia dar ao trabalho de defender a sua soberania naqueles territórios. Ia ser um aviamento. Mas daí até exigir aos militares portugueses ali estacionados a defesa, até à morte, das bombardas de Diu e dos sinos da velha Goa, ia uma distância considerável. Era iníqua a ordem de prisão decretada para os oficiais do quadro que haviam recusado combater a avalanche de indianos. Por grandes que fossem os argumentos estratégicos a servirem-lhe de suporte.

Não era hábito de António Soveral discutir as ordens dos superiores, fossem elas quais fossem. Tinha da instituição militar uma concepção bastante tradicional. Cedo fora considerado um oficial de confiança. Em plena segunda guerra mundial, e numa altura em que todas as sortes da guerra pareciam inclinar-se para os alemães, fora um dos oficiais enviados à Alemanha pelo Governo, como observador. Ali permanecera durante um mês, no Outono de 1941, período findo o qual houvera de elaborar um qualquer relatório secreto. O fim da guerra levara-o a estar ausente da vida militar durante vários anos, chamado pela defesa do património familiar, em risco, devido aos hábitos de jogador do pai. Passado o interregno, voltara ao serviço, gozando da confiança de sempre dos seus superiores. Salazarista convicto, acreditava assentar a salvação da Pátria na instituição militar e nas tradições de que esta era portadora. Aí residia o último baluarte na defesa contra os comunistas a soldo de Moscovo. Pelo menos, acreditara até ao momento em que o "Velho" decidira prender o filho. Insidiosamente, uma dúvida ainda indefinida começava a ganhar espaço no seu espírito.

(continua)
Magalhães Pinto

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