(continuação)
Tardou a primeira experiência com o sexo oposto. Mais por falta de oportunidade do que desejo. O colégio era só de raparigas, Deus me livre, os rapazes são uns malandros e é preciso ter cuidado com eles, repetia a mãe todos os dias. Mas a entrada na Faculdade de Direito alargara os horizontes. Com o seu temperamento folgazão, divertido, Rafaela depressa se tornou popular. Rapazes à sua volta como formigas em disputa dum torrão de açúcar. E uma tarde, fuga às aulas e passeio em Monsanto. Como é que ele se chamava? Um beijo, como vira fazer no cinema. O hálito forte, com um leve rasto de tabaco, muito diferente do da companheira do colégio. Mãos curiosas arriscadamente à procura de segredos. A recolha do primeiro orgasmo masculino. Nas mãos. O medo das consequências, inculcado em milhares de expressões de meio sentido, definia as fronteiras da intimidade.
Durante algum tempo, mudara frequentemente de parceiro, naquelas brincadeiras adultas. Curiosidade insaciável pelos diferentes comportamentos dos machos. Até ao aparecimento do Zé António. Reservado. Ar vivo, quase desconfiado. Dominador. Fora ele o recebedor dos gemidos que assinalam a passagem de menina a mulher. E, desde aí, fixara-se nele. Gostava da sua meiguice, temperada por uma altivez de macho algo bruta. Aproveitavam todas as horas que as aulas da faculdade deixavam livres para se entregarem mutuamente, na mansarda por ele alugada, ali para os lados de Campo de Ourique.
Rafaela concluiu a sua higiene nocturna. Deitou-se. Apagou a luz e adormeceu rapidamente.
(continua)
Magalhães Pinto
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