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14.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 26º. fascículo

(continuação)

Sentiu mexer na fechadura. Rafaela entrou de roldão, como era seu jeito. Isto são horas de chegar, Rafaela? Andam para aí tantos rumores de que, qualquer dia, temos bernarda... Mulher de militar era assim. O calão do quartel acabava por fazer parte do vocabulário corrente, se usado na intimidade. O teu pai está preocupado. Já telefonou a perguntar por ti. Beh! Isso é conversa, mamã! É só caroço, que eu bem conheço esses tipos do reviralho. Falam, falam, e não passam disso. Quando é preciso fazer uma manife, têm todos muito que fazer nessa hora. Isso não são termos que se usem, Rafaela! Não os aprendeste aqui em casa!

D. Amélia nem sequer notava a contradição. A bernarda sempre seria, se fosse, do reviralho. Bota de elástico, é o que tu és, mamã. Rafaela!... Sempre desistia deste modo das discussões nas quais não conseguia vencer a filha. Todas. Telefona aí ao teu pai a dizer que chegaste. Ele deve estar preocupado. Era o que me faltava, bater relógio de ponto. Telefona tu mamã, se queres. Eu vou dormir. E Rafaela subiu, por lanços de três degraus, as escadas que levavam ao andar superior, saia plissada a custo seguindo o voo.

(continua)
Magalhães Pinto

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