(continuação)
Sem a avença vinda de França, a Jacinta houvera de redobrar esforços. E lá arranjara do senhor Macedo trabalho na padaria. Era dele também. Pegava às dez do serão, trabalhava toda a noite e só largava depois de concluída a limpeza, pão quente a sorrir nos estrados. Acabada a noite, ia ainda fazer as manhãs a casa da senhora, pelas limpezas. Quando regressava, ao começo da tarde, alimentava a filharada, tratava da casa e dormitava um pouco. Ao cair da noite, era tempo de aquecer a sopa e cozer as batatas. Quase sempre as morcelas ajudavam a enfeitar os pratos. Em dia de festa, trazia da vila uns bofes de boi reservados, com alguma generosa escolha, pela fressureira. Guisados com batatas eram manjar de rico. E lá ia para a padaria outra vez. Todos os dias. Todos os meses. Sem férias. O domingo era para lavar e secar a roupa. Não havia sol nem chuva que interrompessem o ciclo monótono daquela vida sem horizonte nem destino nem futuro. Mesmo doente. A generosidade da patroa, sempre a oferecer os restos ainda comestíveis e os trapos mais usados, não chegava para pagar trabalho não feito.
(continua)
Magalhães Pinto
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