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13.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 25º. fascículo

(continuação)

Filha difícil. Trazia no sangue a quentura de Benguela, onde tinha sido gerada, numa das viagens que ela e o António tinham feito, ainda o tempo ali escorria doce e pacificamente. Vivia ao ritmo dos tantans de batuqueiros. De nada valia o esforço para lhe moderar o ritmo. Até aos dezasseis anos ainda fora possível pôr-lhe rédea, à custa da ameaça paterna. Mas, tão depressa percebera que o pai queria saber era do irmão, do varão, deixando à mãe os problemas da educação feminina, ei-la que aí vai, lesta, beber o sumo à vida, sede de muitos anos apenas dessedentada em furtivas escapadelas à frouxa disciplina materna. Ai, Amélia, Amélia! Põe os olhos no modo como o António educou o teu filho! O Ricardo parecia ter herdado do pai o comportamento austero. Embora não se pudesse dizer que tinha um idêntico coração de leão. Não fora a tradição familiar e, provavelmente, não teria seguido a carreira militar. Fora sempre pouco audaz, desde pequeno. Mas o António tinha conseguido educá-lo à sua imagem. E não lhe tinha deixado oportunidade de escolha. Seria, como desde há séculos na família, um bravo membro das Forças Armadas.

(continua)
Magalhães Pinto

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