. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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7.3.07
CRONICA DA SEMANA
"As Casas do Côro são o novo tesouro da medieva Marialva. Nos últimos seis anos, aquele complexo turístico ajudou a recolocar o nome da histórica aldeia no lugar devido do mapa. Onde há muito fenecera, a vida renasceu na envolvente alta da muralha do castelo. Ao empreendedor casal Carmen e Paulo Romão, os proprietários, se deve a iniciativa da exemplar transformação do arruinado casario. A rudeza externa dos edifícios em pedra (de acordo com a traça original) esconde interiores esmerados, cálidos, criativos e confortáveis. Na decoração dos espaços, o clássico e o contemporâneo convivem em harmonia perfeita. Abundam os tons pastel e «bordeaux», mas nenhuma tela, quarto, cama, colcha ou tapete se repete. Os lençóis de algodão são bordados, à maneira antiga. A luz velada dos candeeiros ajuda a completar a atmosfera de charme. Apetece estar e desfrutar. O ar é puro, o povoado genuíno e a placidez do local instiga o hóspede a entranhar-se neste meio rural incomum. Para o lazer, além da piscina, «jaccuzi», sauna, circuitos pedonais e de bicicleta, a casa organiza fins-de-semana temáticos relacionados com a vida na aldeia, desportos radicais e passeios pelo Douro. Na loja pode adquirir produtos portugueses de referência. De excelência são também os pratos cozinhados (sob pedido prévio) pela anfitriã. Se puder, não perca a oportunidade de se deliciar com as suas receitas tradicionais.".
"Boa Cama Boa Mesa", edição do "Expresso"
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Até aqui foi a lenda. Agora a realidade. Vivida por aquele casal romântico que, deixando-se embalar pela música da apresentação, ali foi celebrar um dos seus aniversários matrimoniais. Idos dos lados do Porto. Nem é longe. Hoje, em Portugal, nada é longe de tudo. O betão de Cavaco apequenando o território. Quatro noites de núpcias já ornamentadas por algumas cãs. Chegaram às "Casas do Côro" seriam umas cinco e meia da tarde. Anoitecia um muito chuvoso dia de Fevereiro. Viatura estacionada no pequeno largo fronteiriço àquilo que parecia a recepção do empreendimento. Bateram. Esperaram. Nem viv'alma. A chuva impiedosa a marcar as boas vindas. Bem. Ali, no meio da rua, não podiam ficar. Felizmente, aquando da reserva, haviam retido um número telefónico de contacto. Telefonaram. Ah! O melhor era - responderam do outro lado da linha - irem a um café existente noutro sítio da aldeia. Lá receberiam instruções sobre o que fazer. Assim fizeram, debaixo de chuva intensa. Chegaram ao café. Disseram ao que iam. Esperem aí, que já vem alguém. E foram chamar esse alguém, que parecia agora mais distante dos clientes do que as "Casas do Côro" estão do Porto. Não veio o alguém. Mas veio a preciosa informação de que já podiam dirigir-se à recepção onde encontrariam quem podia atender. Voltaram ao princípio. Estava. Um funcionário.
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Meia hora depois, os nossos heróis - é o epíteto que me sinto obrigado a dar-lhes - dirigiram-~se novamente à recepção. Estava um frio de rachar dentro de casa e, o que era muito pior, estavam dentro de casa completamente às escuras. Alguns anos antes até podia ter sido útil. Mas, agora, tantos anos passados, não tinha graça nenhuma. Ainda demoraria muito a chegar a energia? O funcionário sorriu, disse que não podia dar nenhuma informação. E, como explicação para a ignorância, utilizou um argumento nada - até que enfim a civilização aparecia - aldeão: tinha a bateria do seu telemóvel descarregada e não podia falar para a EDP.
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Parece ter resultado. Uns dez minutos depois, o dito funcionário apareceu com duas velas e alguma lenha para a lareira. Um dos vinte e cinco melhores hotéis de Portugal fornecia aos seus hóspedes, duas velas para alumiar uma casa inteira de dois pisos! Uma por piso. É caso para dizer que, naquela aldeia, não há cera. E, um pouco atrás das velas e da lenha, veio uma senhora, com ares de dona ou chefe que, sem saudar os hóspedes e sem se desculpar, se limitou a atirar as culpas para a trovoada e a disponibilizar-se para arranjar mais velas, se fossem necessárias. Estava-se mesmo a ver que não eram.
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Excertos da crónica TURISMO À PORTUGUESA - Magalhães Pinto - Vida Económica - 7/3/2005
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