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8.5.07

CRONICA DA SEMANA



Apenas pouco mais de três por cento do capital do BPI respondeu positivamente, no mercado, à OPA lançada pelo Millenium/BCP sobre a totalidade do mesmo capital. Isto já depois de o banco de Jardim Gonçalves ter melhorado, em cerca de trinta por cento, um preço que, de início, afirmou considerar justo. É, de longe, a maior derrota sofrida pelo engenheiro que um dia apareceu no mercado financeiro português como um génio da finança, obreiro da maior instituição nacional do sector.

Vistas agora, de modo distanciado, as incidências da operação, a única conclusão possível é que, desta vez, e ao contrário do que pareceu acontecer na OPA sobre o Banco Portugu|es do Atlântico, há treze anos atrás, a condução do negócio foi pouco menos que desastrosa. E o resultado final constitui uma lição inesquecível para aqueles que admitem, como no BCP se admitiu sempre, que o dinheiro é tudo nesta vida. Não é. Há princípios morais, há objectivos que ultrapassam o vil metal (até certo ponto), há gente que não se dobra perante a ameaça, mesmo que ela venha de um gigante. Jardim Gonçalves e os seus discípulos aprenderam isso da pior maneira possível. Sofrendo uma pesada derrota, cujas consequências estão longe de se poderem perspectivar completamente. Não foi sòmente a actual gestão do Millenium/BCP que saiu profundamente fragilizada da refrega. É a própria instituição que atingiu, com esta derrota, o ponto mais baixo da sua capacidade de defesa face a ataques exteriores.

Impõe-se ao BPI, todavia, uma atitude de prudente ponderação. Vale a pena recordar que, na OPA BPA, também o BCP sofreu, uma derrota à primeira volta. E não demorou mais de três meses a contra-atacar com dinâmica vitoriosa. O mesmo pode voltar a acontecer. É que os bons princípios que protegeram o BPI na OPA que acaba de fechar-se não são de todo imunes ao dinheiro. Afinal, todas as empresas financeiras, do género das que constituem o núcleo duro do BPI, existem para contabilizar lucros. E a gestão do Millenium/BCP passou a ter, agora, que fazer pela vida. Não é perceptível, ainda, até que ponto chegam as clivagens que, um pouco encobertamente, se verificaram no seio do quadro accionista do banco durante a OPA. Mas sejam duradouras ou simplesmente passageiras, a verdade é que se a actual gestão do Millenium não apresentar brevemente algo a seu favor, dificilmente evitará ser contestada. E, se isso acontecer, o Millenium/BCP encontrar-se-á numa situação parecida com aquela que encontrou no BPA quando saiu vitorioso na OPA lançada sobre este: divisão entre o núcleo duro e a administração, por um lado; e divisão no seio do próprio núcleo duro, por outro. Se isto for evidente e se tornar público, é quase inevitável o surgimento de uma OPA sobre o Millenium/BCP. OPA que terminaria com a galinha dos ovos de ouro para a clique que, partindo do capital de vários empreendedores nacionais – entre os quais avultava Américo Amorim - se alcandorou a, em termos práticos, dona do banco.

Houve. Ao longo desta OPA falhada, personagens, atitudes e gestos que se tornarão antológicos. Vale a pena passar sobre alguns.

Há, no meio dos muitos personagens que enfeitaram a OPA, um que entendo dever ser particularmente destacado. É um homem praticamente desconhecido fora do meio financeiro. Chama-se Carlos da Câmara Pestana...

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Outro personagem de força foi Fernando Ulrich...

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Dos personagens exteriores ao cerne da OPA, mas que tentaram meter, de algum modo, a colher na sopa, há dois extremamente negativos. Eduardo Catroga e Cavaco Silva...

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Por fim, um personagem não pessoal. As missivas. As muitas cartas que Jardim Gonçalves escreveu a alguns intervenientes na OPA situados do lado oposto. A maioria das quais parece ter sido arquivada no quinto arquivo. É muito próprio de Jardim, tal atitude. Já na OPA sobre o BPA, quando as coisas ainda poderiam atrasar-se muito, Jardim privilegiou o diálogo com aquele que poderia levantar algumas dificuldades. João Oliveira, presidente do BPA. Só que, nesse caso, Jardim teve sucesso. E na OPA actual as suas missivas foram a voz de alguém a clamar no deserto. O mínimo que se pode dizer é que Jardim Gonçalves encontrou chinelas para o seu pé. O que até pode nem estar mal para alguém que anunciou, ainda não há muito, que ia arrumar as botas.

Excertos da cronica AS MISSIVAS - Magalhães Pinto - "Vida Economica" - 2007-05-10

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