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1.5.07

A DUVIDA - 53º, fascículo

(continuação)

Sentei-me na borda da cama de ferro. A coberta, amarfanhada, mostrava despudoradamente sinais de espolinhamento recente. A rapariga tentou entabular conversa. Sem êxito, face ao meu silêncio. Impassível, eu assistia, imóvel, ao ritual. Cada vez mais, os gestos que a desnudavam se assemelhavam aos de Maria do Céu. Até no pequeno desequilíbrio em que tirou o pé direito da cueca. Nua, ficou especada diante de mim, ainda vestido, sem saber o que fazer.

Durante alguns momentos, fiquei de olhos pregados nos seus seios rotundos, meio descaídos, amassados por milhões de mãos concupiscentes. Foram diminuido, diminuindo, até ficarem iguais aos de Maria do Céu. Agarrei-os com alguma violência, provocando-lhe um gemido, e puxei-os para baixo, até ficarem à altura dos meus joelhos. Segurei-a com uma mão, pelos cabelos, enquanto com a outra desabotoei a braguilha e libertei o sexo sem erecção. Ficou envergonhadamente a apontar-lhe, não sei se ao umbigo se ao sexo. Introduzi-lho na boca. Cresceu dolorosamente, fusil ancestral transformado em arma mortífera à custa dum malho em forma de língua. Com violência, forcei-o bem até ao fundo, como se quisesse atingir-lhe as entranhas. Imprimi-lhe à cabeça um movimento de vai-vem que, em alguns segundos, me fez explodir numa torrente de dor.

Levantei-me, corri o fecho e, sem uma palavra, atirei-lhe uma nota de quinhentos para cima da cama. Saí, quando a rapariga, de quem nem o nome sei, lavava a boca no lavatório arrumado a um canto do quarto.


Já passava das três da madrugada quando cheguei a casa, Maria do Céu. Remexeste-te um pouco, ronronaste qualquer coisa ininteligível e continuaste a dormir. Fui tomar um duche. Ensaboei-me longamente, como se pretendesse raspar a lama colada à alma. E voltei para a sala, onde fiquei quase uma eternidade a olhar para ti. Tentando adivinhar que sonhos poriam no teu rosto aquele ar tão pacífico, de anjo, embevecedor. Quando apaguei a luz, tinha chegado a uma conclusão. Amava-te.

(continua)
Magalhaes Pinto

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