Face aos recentes desenvolvimentos do caso da pequena Maddie, a miúda inglesa que desapareceu no Algarve, creio que todos temos diante de nós uma lição que não devemos esquecer. Embarcámos primeiro no sentimentalismo fácil e apaixonado para colocar os seus pais nos píncaros da santidade e do sacrifício. E, subitamente, viramos completamente a nossa atitude e passámos a vê-los como facínoras. Ora, nem uma nem outra atitude eram correctas. Nem eles terão sido uns santos e, para isso, bastaria ter entendido que abandonar sozinhos filhos daquela idade, mesmo que seja em casa, para ir conviver com os amigos, não é o comportamento mais apropriado para pais conscientes dos seus deveres. E já nem falo de sentimentos. Como não são agora uns facínoras, pelo menos enquanto não se provar quem fez o quê. A História está cheia de condenados inocentes e de criminosos que escaparam.
Nós, Portugueses, temos uma tendência enorme para ir atrás de todo e qualquer fumo a gritar que há incêndio. Nem que o fumo seja do churrasco de uma galinha. É uma tendência que devemos evitar a todo o custo, pelos danos que causa tal atitude. Temos que saber ser pacientes e calmos o necessário para esperar por resultados, antes de irmos para a praça pública chorar com desgraçadinhos ou insultar facínoras. Será esse – quando tivermos essa calma – um sinal de que somos mais civilizados do que as turbas que, enfurecidas, pediram na praça o assassínio de Jesus Cristo ou de Santa Joana d’Arc.
Independentemente disso, acho que a imprensa inglesa deve a Portugal um audível pedido de desculpas. Até agora, só nos têm insultado, chamando-nos incompetentes. Eu recordo, neste momento, que a polícia portuguesa, desde a primeira hora afirmou que não havia a certeza de ser um rapto. E fico a pedir uma coisa, neste momento em que, sem qualquer formalidade visível, os pais da criança foram protegidos e embarcaram de regresso ao seu país. Peço que não seja porque o pai da criança desaparecida ou morta seja amigo do Primeiro-Ministro inglês, como se diz para aí, que merecem qualquer privilégio especial. O único privilégio que têm o direito a reclamar, no momento em que escrevo isto, é o de serem considerados inocentes até que se prove o contrário. Mais nenhum. Mesmo que os jornalistas ingleses continuem a insultar-nos na defesa do seu concidadão. Também eles, ao fazerem isso, estão a fingir que são deuses e que conhecem a verdade toda. Esperemos tranquilamente. Confiando na Polícia Portuguesa. Que tem resolvido casos bem mais difíceis. Nem que sejam casos para depois pastar nos tribunais, como continua a acontecer com o caso Casa Pia.
Crónica UMA LIÇÃO - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 10/9/2007
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