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1.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 13º. fascículo

(continuação)

Sou muito burro! Até hoje, inchava de orgulho ao relembrar as façanhas dos meus antepassados. Os Gamas e os Dias... os Velhos e os Cabrais... Para quê?... Para quê?... Para quê uma saga do tamanho do mundo se, agora, passados quinhentos anos, querem mandar-nos embora? Ai Velho do Restelo, que acabas por ter razão quinhentos anos depois! E se querem mandar-nos embora, porque queremos nós ficar? Acho que não vou perdoar a ninguém. Nem aos que foram nem aos que não querem vir. Não se pode ficar na casa de ninguém contra a sua vontade. Nem mesmo para honrar a memória de outros idos. Se me perguntassem, eu diria não querer ficar onde me não querem. Mas ninguém me pergunta. Pegam em mim e enfiam-me num barco. Vais para ficar, dizem. E se fico lá para sempre? Não quero! Ouviram?... Não quero! Ninguém me ouve. Apenas este ruído do marulhar das ondas na praia, que já só ouço como se fosse o ronronar duma auto-metralhadora. Não quero, ouviram?... Não quero!...

(continua)

Magalhães Pinto

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