(continuação)
Insistiu na ligação para casa. Desta vez atendida. Pela mulher, regressada do jantar. Por ela ficou a saber da vontade da Ana Maria Pestana em envolver-se mais no Movimento Nacional Feminino. O exemplo da Cilinha começava a dar frutos. Já se contavam por milhares as aderentes. Ora aí estava uma boa oportunidade para tu te ocupares um pouco também, Amélia. Porque é que não ajudas?
Enquanto a mulher ia desfiando as contas do jantar, o tenente-coronel Soveral avaliava o conselho acabado de dar. A Amélia não tinha jeito para essas coisas. Servir de apoio moral a soldados em véspera de partida para o Ultramar era uma coisa. Mas visitar as famílias dos que morreram ou ficaram estropiados era outra, completamente diferente. Ninguém gosta de ser mensageiro da desgraça e ver nos olhos dos desgraçados não se sabe se inveja do anunciante, se raiva pelo filho morto ou estragado. Aquilo não era tarefa para aquele coração de ouro que se tornara sua mulher. Estava bem para a energia indomável, para o dinamismo, da Lucília Supico Pinto, a quem os militares – e os amigos – chamavam carinhosamente de Cilinha. Tinha sido providencial o seu aparecimento. Tinha sido ela a suprir as deficiências do país, impreparado para uma guerra, para as necessidades de apoio moral aos soldados e às suas famílias. Tanto dos que apenas estavam separados durante dois anos, mas também e principalmente às famílias dos que morriam no campo de batalha ou dele regressavam estropiados.
(continua)
Magalhães Pinto
2 comentários:
Sobre o que se trata essa história? É verídicta?
Obrigado pela visita e comnetário.
Esta é a publicação do meu romance OS HERÓIS E O MEDO - publicado pela Âncora Editora - e é a história romanceada da experiência vivida pelo autor na guerra colonial, na Guiné.
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