(continuação)
Sabia ao que ia, quando se apaixonara por aquele alferes espadaúdo, rectilíneo, altivo, recém-saído da Academia. A recordação pintou nos seus olhos um sorriso de ternura. Como ele era lindo! Ainda não perdera muito da sua imponência, não obstante os ombros terem começado a descair e o volume do ventre a aumentar. Sabia ao que ia. O pai também fora militar. Angola, durante a última guerra mundial. Levara a família. A mãe e mais quatro irmãos, além dela. O risco não era muito. Os alemães estavam pela Namíbia, mas as ajudas de Lisboa a Berlim continham as suas ambições. O trabalho também não era pesado. Não faltavam criados para o serviço. E o tempo de comissão dera para tomar conta daquela roça em Benguela. Já não iam há tanto tempo a Benguela! Desde quando? O António nem sequer a quisera levar aquando da primeira comissão de serviço. A guerra não é para mulheres, dissera ele. E o que temos em Angola é guerra e das piores, continuara. Bem a seu contra-gosto, ficara em Portugal, com os filhos, embora entendesse que o lugar da mulher era ao lado do marido, fossem quais fossem as condições. Dois longos anos, entremeados por uma breve vinda à Metrópole, naquilo que nem tinham chegado a ser férias, devido ao problema do filho. O filho. Sem resolução ainda o problema. Muitos dos cabelos brancos do António haviam sido pintados pelo problema do filho. Mas os cabelos brancos pareciam torná-lo ainda mais bonito. Como ela se revia nele!
(continua)
Magalhães Pinto
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