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14.3.07

A DUVIDA - 5º. fasciculo

(continuação)

O sentimento de maior culpa minha tortura-me. O meu cego ciúme pode muito bem tê-la conduzido àquela sucessão de mentiras, serpente sem fim enroscada, autofágica, de rabo na boca, vertigem voraz, que acabou por me fazer desistir da tarefa tomada a peito, primeiro por curiosidade, depois por humanidade, a seguir por amor e, por fim, por raiva e teimosia. Quem sabe se por inveja...


Porquê, Maria do Céu? Apetece-me repetir o lamento dos impotentes no abraço da Vida, esquecidos de serem iguais a todos os outros: porque nos havia de acontecer isto a nós?... Não tenho a menor dúvida - esta, pelo menos, eu não tenho - de que tu, também, tendo começado por desfastio, pela diferença da minha atitude em relação à dos teus interlocutores habituais, tu também te deixaste aprisionar na rede sublime, envolvente, que nos ligou e que, ao romper-se, deixou escapar tantas lágrimas brilhantes, fugidias, escorregadias como lodo ao ser lavado. Tuas como minhas. Peixes sedentos de espaço e liberdade, para os quais o afago da rede mais suave, em vias de ser alada, se não compara à fria vastidão do mar imenso e sem fronteiras.


Nem a visão global do passado de Maria do Céu, hoje a reproduzir um todo mais compreensível, talvez, do que o meu próprio, me ajuda a encontrar a resposta. Por isso, falar dela acaba por ressumar uma perplexidade dolorosa, nem sequer mitigada pela recordação dos momentos felizes fugazmente vividos - e alguns foram.

(continua)

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