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2.5.07

CRONICA DA SEMANA


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Ninguém parece ter reparado no alerta. E hoje, passado mais de um ano e meio, começamos a perceber o que está em curso. A nomeação de Pina Moura para conduzir os destinos de um dos órgãos de comunicação social com maior audiência em Portugal, é o segundo passo, já decisivo, para repetir em Portugal o fenómeno que se passou em Espanha. Recordemos que Pina Moura foi, até agora, um influente membro do Partido Socialista e que, talvez pensando que somos todos um bando de parvos, procurou disfarçar o PEC - Plano Estratégico em Curso - por debaixo da capa do abandono de todos os cargos partidários. A máscara da honestidade a tapar o rosto das intenções. E, melífluamente, procuraram fazer-se comparações com Pinto Balsemão. Só que nós conhecemos Pinto Balsemão muito bem. De ainda antes da Revolução que fez de Pina Moura alguém. Os métodos de Pinto Balsemão, os interesses que tem perseguido, ao longo de todo este tempo, na Comunicação Social têm sido límpidos, honestos, claros. Nem mesmo quando foi Primeiro-Ministro colocou os "seus" órgãos ao seu serviço (como, por exemplo, descaradamente faz o Primeiro-Ministro italiano). Já os métodos de quem conduz a PRISA, que Pina Moura representa, são, no mínimo censuráveis. Basta, talvez, dar conta das últimas atitudes daquele que é, actualmente, a eminência parda da Comunicação Social espanhola e dono da Prisa e do império de comunicação social que ela representa. Jesus Polanco Gutierrez, nascido em Madrid em 1929.

Aconteceu na última Assembleia Geral da PRISA, o grupo a que Polanco preside e do qual é detentor de mais de 60% do capital. No dia 23 de Abril último. Um accionista minoritário de PRISA manifestou a sua preocupação por uma parte significativa do público ver o Grupo Prisa como uma fonte de poder partidário (do PSOE); e defendeu que os respectivos órgãos de comunicação deveriam aparecer como mais "neutrais". "Não se pode ser neutral com um Parido que incentiva a guerra civil, que é franquismo puro e duro e que, se reconquistasse o poder, seria animado de vontade de vingança, o que dá medo", disse o senhor Polanco. Referia-se ao Partido Popular e ao facto de este ter estado ao lado de muitos milhões de espanhóis que, nas ruas, protestaram contra a política do Governo espanhol para com a ETA, designadamente contra a soltura de um destacado membro desta força terrorista que se encontrava preso por ser o responsável de numerosíssimos assassinatos. Não contente com isso, o senhor Polanco acusou o Partido Popular (PP) de clerical e rançoso. Naquilo que muitos intérpretes de opinião entenderam ser um claro apelo à destruição do PP, a qual contaria com o apoio do Grupo Prisa. E não foram inocentes as acusações do senhor Polanco. Antes se diria que fazem parte duma estratégia mais global de controlo do poder, como parece resultar de ter sido imediatamente secundado por Hugo Chavez, o Presidente comunista da Venezuela, o qual, numa alocução difundida para todo o mundo, acusou a mais prestigiada figura do PP, José Maria Aznar de "fascista, pior que Hitler, lacaio de Bush, homem que dava nojo".
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É de quem se conduz assim, na vida pública, que Pina Moura foi nomeado comandante-chefe em Portugal. Não me admiraria nada que, na sequência das delcarações independentistas partidárias já produzidas, possamos ouvi-lo dizer em breve que também conquistou a independência do seu patrão, o senhor Polanco.Valerá tanto essa declaração como a que já fez. Isto é, nada. A verdade crua que fica à superfície é que - como creio ter sido a primeira pessoa a afirmá-lo publicamente - a liberdade e a pluralidade de expressão estão seriamente ameacadas. Não por calar a boca. Mas por reduzir intensivamente o acesso dos cidadãos a vozes diversificadas. Este é apenas mais um dos muitos indicadores do que se está verdadeiramente a passar.

Excertos da crónica PINA POLANCO - Magalhães Pinto - "Vida Económica" - 3/5/2007

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