(continuação)
A janela do quarto dava para os jardins do Eliseu. Não que a orla de arvoredo deixasse ver grande coisa lá para dentro. Mas aquela verdura toda, praticamente no meio da cidade, transmitia uma sensação de paz. Como se a natureza apelasse muito mais audivelmente às nossas raízes ancestrais quanto mais visíveis eram os estragos por nós provocados. Só com muita atenção se percebia, ao longe, o bruá do tráfego nos Campos Elíseos. Era fim de tarde e a luz do crepúsculo acentuava o sossego que nos rodeava. Insisti. As suas nádegas, em relevo pela posição semi-debruçada assumida, cotovelos no parapeito, contorno do slipe a perceber-se por sob a saia de forro fino e sem combinação, eram um convite irresistível para os meus sentidos exacerbados pela atmosfera de sensualidade que nos envolvia. Por instantes, dei por mim a notar a bizarria do comportamento humano, no plano sexual. Um grão de excitante diferente do habitual tem para a mente o poder dum afrodisíaco. Encostei o meu ventre contra as suas nádegas, sentindo a resposta imediata do meu sexo. Maria do Céu começou a ondular as ancas, quase imperceptivelmente, numa dança do ventre apenas sugerida. Nao sei se por efeito das minhas mãos em redor dos seus quadris, se pela dança subtil, a saia de Maria do Céu foi subindo, até ficar quase enrolada em torno da sua cintura. Sentia o calor do seu corpo contra o meu, excitando-me ainda mais. Introduzi a minha mão direita por sob a saia, acariciando o seu ventre, dedos a insinuarem-se na orla do slipe.
Para mim, Maria do Céu, desfrutar o teu corpo era, agora, quase um direito adquirido. É verdade que ainda me preocupava o teu prazer. Mas, se queres que te diga, creio que ele fazia parte do meu próprio. Cada gemido teu, soava, aos meus ouvidos, como um grito ancestral de vitória. A humidade das tuas entranhas era uma seiva vivificadora, fonte do vigor que enrijecia o tronco que te oferecia. Não sei dizer se, daquela vez em Paris, logo a seguir à nossa chegada, o teu prazer foi tão profundo como o meu. Ou se, conduzida pelo hábito antigo, fingias apenas. Um meio fingimento, já que a tua excitação era sensível. E, mais perturbante ainda, Maria do Céu, não me recordo que isso me tenha importado muito. Fingimento ou não, bastava-me a tua manifestação exterior, física, para satisfazer o meu ego. E, hoje, envergonha-me pensar não ter sido, provavelmente, o que senti então muito diferente do orgulho do vaqueiro, no momento de domar um puro sangue e, docilmente, o submeter à sua vontade.
(continua)
Magalhães Pinto
Sem comentários:
Enviar um comentário