(continuação)
O chão da parada reluzia como se todo o regimento tivesse estado a encerá-lo. Um vulto fantasmagórico, lá ao fundo, atravessava-a em passo ligeiro. O sargento de dia na ronda da noite. Capa amarelada, impermeável, montada num par de botas andantes, que mais dele se não descortinava. Viu-o desaparecer na guarita da porta de armas. Adivinhou o gesto. Pegar na chave pendurada na parede. Enfiar a chave no buraco do relógio de ronda. Dar um quarto de volta no sentido dos ponteiros. Tirar a chave. Pronto. No disco de cartolina, reprodução do mostrador, um furo minúsculo atestaria o dever cumprido. Um dever sempre exigido, mas com mais rigor nas ocasiões, como aquela, em que estavam de prevenção. Na manhã seguinte, o oficial de dia, antes de sair de serviço, passaria distraidamente os olhos sobre o disco, a ver se estavam lá todos os furos da ordem. Como se fosse o corpo de um soldado toda a noite na mira duma pistola metralhadora inimiga.
(continua)
Magalhães Pinto
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