Pesquisar neste blogue

30.9.07

FIGURA DO DIA

Paulo Bento. Pela habilidade de gritar contra um inexistente erro da arbitragem (penalty de Katsouranis), para que ninguém se lembre de discutir um existente erro da arbitragem (penalty de Alex sobre Adu).

PENSAMENTO DO DIA

A promiscuidade entre o presidente de uma associação privada - Ares do Pinhal - e um alto quadro do Instituto da Droga e da Toxicodependência, quando ambos, presidente e alto quadro, são a mesma pessoa e a segunda entrega à primeira dinheiros públicos, sem sequer existir o disfarce do concurso público, é uma droga. Como era de esperar.

FRASE DO DIA (II)


"Bombeiros estudam partos em ambulâncias."

Título de "EXPRESSO" - 29/9/2007

***

A minha profecia cumpre-se. Na sequência da reforma da saúde que encerrou as maternidades, o governo deverá legislar em breve no sentido de que só possa ser bombeiro quem tiver o curso de partos...

FRASE DO DIA (I)


"A vitória de Filipe Meneses foi uma desgraça."

Mário Soares - "SIC NOTÍCIAS" - 30/9/2009

***

São assim os velhotes, tudo para eles é uma desgraça...

OS HERÓIS E O MEDO - 40º. fascículo


(continuação)

António Soveral compreendia dificilmente a atitude do "Velho" para com os militares regressados do cativeiro na Índia, entre os quais o seu filho Ricardo se incluía. Percebia dever Portugal mostrar-se ofendido e decidido a guardar o seu império. Ai de Angola e Moçambique se o mundo percebesse que Portugal não se ia dar ao trabalho de defender a sua soberania naqueles territórios. Ia ser um aviamento. Mas daí até exigir aos militares portugueses ali estacionados a defesa, até à morte, das bombardas de Diu e dos sinos da velha Goa, ia uma distância considerável. Era iníqua a ordem de prisão decretada para os oficiais do quadro que haviam recusado combater a avalanche de indianos. Por grandes que fossem os argumentos estratégicos a servirem-lhe de suporte.

Não era hábito de António Soveral discutir as ordens dos superiores, fossem elas quais fossem. Tinha da instituição militar uma concepção bastante tradicional. Cedo fora considerado um oficial de confiança. Em plena segunda guerra mundial, e numa altura em que todas as sortes da guerra pareciam inclinar-se para os alemães, fora um dos oficiais enviados à Alemanha pelo Governo, como observador. Ali permanecera durante um mês, no Outono de 1941, período findo o qual houvera de elaborar um qualquer relatório secreto. O fim da guerra levara-o a estar ausente da vida militar durante vários anos, chamado pela defesa do património familiar, em risco, devido aos hábitos de jogador do pai. Passado o interregno, voltara ao serviço, gozando da confiança de sempre dos seus superiores. Salazarista convicto, acreditava assentar a salvação da Pátria na instituição militar e nas tradições de que esta era portadora. Aí residia o último baluarte na defesa contra os comunistas a soldo de Moscovo. Pelo menos, acreditara até ao momento em que o "Velho" decidira prender o filho. Insidiosamente, uma dúvida ainda indefinida começava a ganhar espaço no seu espírito.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

Antevisão da viagem inaugural do TGV...

29.9.07

FIGURA DO DIA




Marcelo Rebelo de Sousa. Pelo erro monumental de previsão relativamente às eleições no PSD. O que faz exprimir o que os ingleses chamam wishful thinking...

INTERLÚDIO - Speak Softly Love[Theme From

PENSAMENTO DO DIA (II)



Havia, nos Romanos, um sentido de beleza que se prolongava no tempo...

PENSAMENTO DO DIA (I)



José Sócrates que se cuide. A liderar o PSD está agora alguém domo ele...

FRASE DO DIA


"Escutas provam que Sócrates faltou à verdade."

Título de "SOL" - 29/9/2007

***

Para que são precisas escutas telefónicas para saber isso?...

OS HERÓIS E O MEDO - 39º. fascículo

(continuação)

V

No quartel, António Soveral tranquilizara-se com a notícia do regresso da filha a casa. Sentia o silêncio em seu redor. Apagou a luz. Mas não adormeceu. Oxalá a prevenção acabasse no dia seguinte. Devia insistir no Ministério. Aquilo que estavam a fazer ao filho Ricardo era uma injustiça. Ninguém pode ordenar o suicídio a ninguém. E, todavia, fora isso que o "Velho" decretara, senhor todo poderoso duma nação inteira. Pobre do filho. Primeiro, o cativeiro na Índia. Embora sem perigo de maior, não tinha sido propriamente a estadia numa estância balnear. Depois o regresso, dificilmente negociado. A invasão de Goa, Damão e Diu tinha sido o prenúncio do que aí vinha nas restantes províncias ultramarinas. A violação de um direito adquirido em séculos de ocupação. Nem o nosso velho aliado, a Inglaterra, capaz de algum poder de influência junto da União Indiana, membro da Comunidade, nos valera. Oxalá a Índia não fosse o prenúncio do fim do Império. Aliás, a invasão da Índia Portuguesa estava seguramente inserida numa estratégia internacional de mais vasto alcance. Entendia-se porquê. Era a parte mais vulnerável do império colonial português. Era a que estava mais longe, excluindo a quase esquecida Timor. Não representava interesses económicos suficientes para conduzir os Portugueses a uma defesa excessiva. E não tinha sequer a justificação da colonização religiosa e civilizacional. Quando os Portugueses chegaram à Índia, já lá existia uma civilização tanto ou mais desenvolvida do que a europeia.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

Caso para cartão amarelo, vermelho ou... rosa?...

28.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 38º. fascículo

(continuação)

Ficou a saber quem era a família de Rafaela. Uma daquelas a quem nada faltava. Mamã em casa a tratar dos filhos, com todo o conforto, alguma padeira ainda para ajudar. Papá oficial superior do exército, a assegurar que nada mudasse na organização daquela sociedade injusta. E o mano a imitar o papá, para eternizar a situação. Pois. Não era bem assim. O mano estava preso. Mas era militar na mesma. E se o deixassem, pegaria outra vez em armas para matar os que apenas queriam uma pátria. A partir daí, não conseguia separar do prazer sentido, em cada momento de posse, a satisfação íntima vagamente associada à sensação de estar a recuperar algo de seu, indevidamente roubado. Quando lhe mordia os seios, sentia-se como um cordeiro a abocanhar lobos domesticados. Especialmente o irmão de Rafaela, para ele já o símbolo duma eternidade indesejada.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

A evolução da autoridade pode avaliar-se pelas pégadas deixadas nbo Tempo...

27.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 37º. fascículo

(continuação)

O sangue aqueceu-se-lhe pela primeira vez naquela manifestação da baixa, em protesto contra a guerra colonial. Não eram muitos, os manifestantes, que os mortos de África ainda iam no princípio. Mais os basbaques do que os manifestantes e os polícias, todos juntos num confuso jogo de cabra-cega. Burlesco. Trôpego. Excepto para aquela senhora idosa a atravessar a rua, de lá para cá, calmamente, com toda a dignidade no meio da barafunda. A rapariga de rabo de cavalo afastou-se maquinalmente para a deixar passar. Foi quando reparou nela. Era bonitota, a miúda. Rafaela, soube depois. Cabelos longos, meio aloirados. Ou castanhos, mas muito claros. Foi-se aproximando, para a apreciar melhor. Estavam quase lado a lado, à chegada dos canhões de àgua da polícia. Entusiasmada, ela não se dera conta de estar na mira. Apercebendo-se, ele interpusera-se entre o canhão e a rapariga, envolvendo-a nos seus braços, enquanto a arrastava para o precário abrigo duma ombreira de porta. Sem grande sucesso, aliás. O regador sabia o que estava a fazer. Sentiu a pancada da água nas costas. Porra! Aquilo não matava mas doía à brava. O agradecimento a brilhar nos olhos da rapariga, quando puderam escapar-se da confusão, fora compensação suficiente para a dor sofrida e os incómodos. O sangue nas veias parecia também estar em fuga, quando mergulhou naqueles olhos cheios de vida, endiabradamente saltitantes, numa atracção quase hipnótica. Atracção transformada rapidamente em prisão, quando Rafaela se mostrou uma mulher de fogo, na cama do seu quarto humilde e desarrumado, para onde foram no intuito de secar as roupas. Recolhera a sua virgindade com alguma surpresa. Tudo fora muito rápido. As virgens costumavam ser mais recatadas.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

Quantos são precisos para pintar uma piscina?...

PENSAMENTO DO DIA



Roma. Via del Corso. Uma das ruas mais comerciais da Cidade Eterna. Um pequeno estabelecimento que quase passa despercebido, ali já perto da Piazza del Popolo. Uma pequeníssima montra. Sobre a porta de entrada, um nome aparentado com a moda: Stefano Ricci. Na montra, um fato bonito e de bom corte: 700 contos. Um casaco de veludo, num azul delicioso: 500 contos. Uma gravata com vidrilhos a luzir: 50 contos. Apressei-me a fugir dali, não fora o dono vir à rua exigir-me qualquer pagamento só por estar a olhar a mercadoria.

PENSAMENTO DO DIA (27/9/2007)




Roma. Mausoléu de Augusto. O imperador do apogeu de Roma como capital imperial. Em ruínas. No meio de uma praça rodeada de edifícios pretensamente renovadores do tempo de Mussolini. Ainda bem conservados. Sic transit gloria mundi.

26.9.07

OS HERÓIS E O MEDO - 36º. fascículo

(continuação)

Não se atarantou em Lisboa, para onde foi, prometendo à mãe não seguir as pisadas do pai. Achara trabalho num banco, sem muita dificuldade. Felizmente, as vagas eram muitas. Excediam as cunhas. Sorte de aldeão jovem e esperto, recém-chegado à capital. Sorte a que a fome das guerras de África por homens a despertar não era alheia. Chegado à Faculdade, numa carreira escolar fulgurante, juntara-se, naturalmente, às tertúlias mais contestárias. Encontrava aí eco para o seu grito. Um grito que as fragas da montanha jamais tinham repercutido. Dera nas vistas rapidamente e fora recrutado, fidelidade alforriada, para uma célula organizada de agitação. Só mais tarde viera a saber ser de inspiração comunista. Tanto lhe fazia. A sua ideologia fora bebida no egoísmo do pai, no suor da mãe, no choro dos irmãos, na chuva a escorrer cara abaixo para disfarçar as lágrimas, na neve a gelar os lábios e a ponta do nariz. Tanto lhe fazia. O que era preciso era gritar o erro daquela sociedade egoísta e exploradora da fragilidade dos pobres, como ele. Pela primeira vez, encontrava alguém para quem a solidariedade não era desconhecida. Depressa aprendeu, nas páginas do Avante, chegado às suas mãos sempre de noite, ser necessário partir tudo. Para acabar com os pobres. Para acabar com os putos na Guarda a trabalhar à saída dos cueiros. Miúdos que, logo crescessem, haveriam de malhar com os ossos em África, na defesa das roças dos poderosos.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

Não deixe afundar o seu ego, meu Caro Amigo... O haltere está pintado na parede...

FRASE DO DIA

"Tasse: evadere è rubare."

(Tradução: "Impostos, evadir-se é roubar.")

Luca di Montezemolo - Presidente da "CIP" italiana - Corriere della Sera - 26/9/2007

***

Tem razão. Não deve é existir em Itália o ditado que diz "Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão"...

PENSAMENTO DO DIA (II)


Roma. Almoço na Via Veneto. Do antigo fulgor, lá pelos inícios da segunda metade do século passado, não resta nada. Nada, a não ser o preço duma refeição. Robalo escalado e grelhado vendido a dezasseis contos o quilo. Sem acompanhamentos. Que batatas são coisa cara. Duas batatitas assadas custam um conto e quatrocentos. Uma virtude. Estava bom. Uma vez para nunca mais. Com cinquenta anos de atraso, almocei na Via Veneto.

PENSAMENTO DO DIA (I)





Roma. Visita ao Coliseu e aos Fora Imperiais. Restos de um poder que, como todos os poderes, se desvaneceu com o tempo. Sinais de um milénio de conquistas que levou um pequeno povo de uma igualmente pequena cidade perdida no meio da Itália a dominar todo o mundo conhecido de então. Ah! Se todos os povos pequenos soubessem agir com a tenacidade dos romanos, como podia Portugal ser grande!...

25.9.07

PENSAMENTO DO DIA



Uma tarde a visitar os museus do Vaticano. Nunca vi tanta riqueza e arte juntas. Na alma, sentimentos contraditórios, enquanto o êxtase perante o talento e a beleza - desta vez de Miguel Ângelo, na capela Sistina - parecia tudo querer afogar. Por um lado, sente-se que o melhor é toda esta riqueza estar nas mãos de uma instituição eterna, estável e universal; é o melhor modo de a proteger para que as gerações futuras a possam apreciar. Mas, por outro lado, parece inútil tanta riqueza quando, subitamente, nos assalta a noção da miséria que vai por esse Mundo!...

OS HERÓIS E O MEDO - 35º. fascículo

(continuação)

Os dias de Zé António tornaram-se mais longos, a partir daí. Fado corrido, como o da mãe. Acordar com os galos. Lide da casa. Amanho das terras. Tratar dos irmãos. Comer a côdea. Abalar para a escola técnica ao cair da noite. Regressar, daí a três ou quatro horas, ao aparente conforto do colchão de folhelho e da manta da serra ponteada aqui e além. Um sono pesado, sem sonhos. Pelo menos, nunca se recordava de os haver tido, quando acordava. Para recomeçar. Todos os dias. Com a chuva e, quando o inverno lambia a serra, com a neve por companhia. Vento agreste a rasar os pelos da barba, quando estes começaram a aparecer. Primeiro ralos, como a urze lá mais para o topo. Pouco a pouco feitos em mata. A natureza repetia-se nos traços do rosto progressivamente endurecidos do rapaz.

Os degraus foram sendo subidos, com a facilidade de sempre. Não obstante o esforço para diminuir a carga da mãe, uma autêntica escrava que do pão não via senão a farinha por entre os dedos. A suficiente para a conta no Zé Migalhas viver sempre periclitantemente equilibrada entre os fornecimentos para apontar e os pagamentos do fim do mês. O aproveitamento na escola técnica não desmentiu o passado. Uma raiva, pouco habitual nos pobres, parecia gravar cada ensinamento, a fogo, no espírito de José António. Era forçoso ir ainda mais longe, pensava revoltado, para libertar a mãe daquele esforço desumano. E poder ajudar os irmãos. A revolta acentuada pela circunstância de não poder continuar os seus estudos lá na Guarda. A única alternativa era partir para Lisboa e continuar aí, no Instituto Comercial, para tentar mais além. Maldito destino aquele, de nascer nas faldas da serra e não em Lisboa! Porque haviam os outros de ter oportunidades a si negadas? E aos irmãos?

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

Mão amiga fez-me chegar esta colecção de avisos paroquiais, atribuídos à paróquia de Belmonte. Não sei se são verdadeiros. Mas são tão engraçados que não resisti a transcrevê-los.
***

"Para todos os que tenham filhos e não o saibam, temos na paróquia uma área especial para crianças."

"Quinta-feira que vem, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as senhoras que desejem formar parte das mães, devem dirigir-se ao escritório do pároco."

"As reuniões do grupo de recuperaçao da autoconfiança são nas sextas feiras, às oito da noite. Por favor, entrem pela porta traseira."

"Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra “Hamlet” de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia."

"Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência.
É uma boa ocasião para se livrarem das coisas inúteis que há nas suas casa. Tragam os seus maridos!"

"Assunto da catequese de hoje: “Jesus caminha sobre as águas”
Assunto da catequese de amanhã: “Em busca de Jesus”."

"O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia."

"Lembrem nas suas orações todos os desesperados e cansados da nossa paróquia."

"O mês de Novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia."

"O torneio de “basquet” das paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira.
Venham aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!"

"O preço do curso sobre “Oração e jejum” inclui as comidas."

"Por favor, coloquem as vossas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados."

"Na próxima terça-feira à noite haverá uma feijoada no salão paroquial.
A seguir, terá lugar um concerto."

"Lembrem-se que quinta-feira começará a catequese para meninos e meninas de ambos os sexos."

***

Gentileza de J.Rocha

24.9.07

AVISO

Devido a ausência do autor para o estrangeiro, este blog vai conhecer alguma irregularidade de publicação na presente semana.

As desculpas do autor.

CRÓNICA DA SEMANA - (II)

Há dias, num jantar, o Senhor Ministro das Finanças anunciava, com alguma convicção, que o défice orçamental português, no ano de 2008, será da ordem dos 2,4%, valor mais baixo desde 1974. No mesmo dia, partia para Cuba mais de uma dúzia de portugueses para serem operados aos olhos, dado o longo tempo de espera que já levavam em, Portugal, pela cirurgia necessária. Não pude deixar de meditar nos bizarros caminhos que a governação do meu país leva. Uma parecia agradável, na medida em que fazia presumir que um dos grandes males do país – o défice – está em vias de ser debelado. A outra era bastante desagradável, porque fazia presumir que um mal endémico do país – os cuidados de saúde prestados pelo Estado – estão em vias de agravamento. As notícias estavam, obviamente, relacionadas uma com a outra. Não de modo directo, imediatamente evidente, mas de maneira indirecta, porventura não imediatamente visível. Uma dependia da outra. Eram ambas causa e efeito recíprocos. E, se atentarmos ao país a que aquela mais de uma dúzia de portugueses recorria – Cuba – tida por um os mais pobres e menos desenvolvidos da actualidade (com excepção de medicina, reconheça-se – havemos de chegar à triste conclusão de que Portugal se arrisca a ser o campeão do menor défice público entre os países subdesenvolvidos. Uma triste liderança. Uma razão para dizer “ao que nós chegámos!”.
Vamos por partes. Os desmandos financeiros sem conta, praticados por sucessivas administrações públicas, centrais e locais, conduziram Portugal à necessidade de reconduzir o seu défice orçamental anual para níveis exigidos pela Europa a que julgámos um dia poder pertencer. E, chegada a hora – diga-se claramente, com José Sócrates no Governo e Cavaco Silva na Presidência da República – o esforço foi iniciado. Ao dispor dos governantes não havia muitas alternativas. Um Orçamento do Estado divide-se, de um modo geral e simplificado para bom entendimento, em receitas correntes e receitas extraordinárias de um lado, e despesas correntes e despesas de investimento do outro. Se o primeiro lado é pronunciadamente menor do que o segundo lado, isto é, se as receitas do Estado são menores do que a sua despesa, há um défice orçamental insuportável. Era essa a situação, Para corrigir o défice, o governante está colocado numa situação em que ou aumenta as receitas ou diminui as despesas ou, o que geralmente faz, aumenta as receitas e diminui as despesas simultaneamente.
Até aqui tudo é simples. Começa a não ser quando pensamos que as receitas podem ser aumentadas na sua parte corrente, isto é, aumentando os impostos, ou na sua parte extraordinária, isto é, desfazendo-se de património. E quando pensamos que as despesas podem ser reduzidas na sua parte corrente – isto é, nas despesas com o funcionamento gigantesco do Estado – ou na sua parte de investimento – isto é, das obras (sentido lato) que o Estado manda fazer. E complica-se quando, baixando às despesas correntes, vemos que o Estado pode reduzir a despesa com o pessoal, com as compras que faz por se crerem necessárias ao funcionamento da máquina pública ou com as prestações sociais que presta aos cidadãos em contrapartida dos impostos e contribuições que este paga. E, neste último domínio, ainda podemos distinguir entre as pensões e subsídios e os cuidados com a saúde. Tudo a deixar milhentas de combinações possíveis para conseguir o mesmo objectivo: reduzir o défice público.
Obviamente, é no volume dos impostos que pagam, por um lado, e na eficácia do funcionamento da máquina pública – tribunais, segurança, administrativa – e nas prestações sociais que os cidadãos sentem o esforço feito pelo governante. E apenas podemos dizer que estamos a sentir esse esforço há demasiado tempo, para ser concreto desde que um Primeiro-Ministro chamado Durão Barroso, numa frase que escandalizou meio mundo talvez por ser inteiramente verdadeira, disse que “o país está de tanga”. Esse sentimento dos cidadãos é que verdadeiramente mede o sacrifício imposto pelo controlo do défice. E é na análise do problema de saber se não haveria outro modo menos sacrificador de conseguir o mesmo objectivo que pudesse ser seguido pelo governante.
Aqui chegados, uma aproximação para responder ao problema pode ser encontrada por uma comparação simples. Procurando hierarquizar as necessidades dos cidadãos, de modo a poder medir as restrições colocadas à satisfação dessas necessidades. Procurando avaliar onde é que o governante, para atingir o objectivo da redução do défice, corta ou aumenta. E da comparação das duas escalas, medir o sacrifício do cidadão. Entendendo, face a alternativas disponíveis, se esse sacrifício podia ou não ser menor. Porque qualquer governante tem que ter sempre presente, face aos objectivos que persegue, que só é bom governante se minimizar os sacrifícios do cidadão para as atingir. É isso a economia do bem-estar que todos os governos civilizados do Mundo hoje tentam atingir.
Estou mesmo a ver o meu Leitor a pensar: é fácil, corta-se ao investimento público e deixa-se tudo o resto como está. Diga-se de passagem que tal chegaria para atingir o objectivo que queremos para o défice. Mas não pode ser. Não só porque um futuro melhor carece do investimento público, mas também porque a falta de investimento público numa economia a ele habituada conduz à recessão económica, ao fecho de empresa, ao desemprego. Portanto, isso tem que ser feito com muito cuidado. Claro que esse cuidado não deve ser tão, diga-se, “cuidadoso” que o governante entenda dever enveredar por investimentos faraónicos, como são o novo aeroporto da OTA ou o TGV.
Admitindo uma criteriosa selecção dos investimentos públicos e mostrando-se impossível reduzir suficientemente o défice apenas pela via do corte nos investimentos, fica o aumento de impostos e a despesa corrente. E aqui, sim, provocando já sacrifícios de monta e imediatos nos cidadãos.
Julgo não ser disparatado que as necessidades dos cidadãos se hierarquizam, da maior para a menor, do seguinte modo:
- Alimentação
- Saúde
- Habitação
- Segurança
- Protecção na velhice
- Educação dos filhos
seguindo-se uma longa lista de necessidades menos prementes.
Para assegurar por si mesmo a satisfação das suas necessidades, o cidadão precisa de trabalho, isto é de um rendimento disponível, regular e recorrente. Algumas das suas necessidades não podem ser auto-satisfeitas. A satisfação individual delas seria insuportável. Entre elas, a Saúde ocupa um dos lugares cimeiros. Isto é, os cortes na Saúde, efectuados por um governante à procura de reduzir o défice público é sempre muito sensível pelos cidadãos. Impõe-lhes sacrifícios que doem – e não apenas em sentido figurado.
Creio que não preciso de acrescentar mais nada. A tal segunda notícia com que iniciei esta crónica mostra de que modo está a ser primordialmente, ou pelo menos acentuadamente, através dos cortes na Saúde que o governante está a conseguir ser recordista do défice, desde logo entre nós desde 1975, e depois entre os países subdesenvolvidos, como Cuba. E foi esta verificação que me deixou triste. Muito triste. Há glórias que não valem o suor gasto para as conseguir.

Crónica TRISTE LIDERANÇA - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 26/9/2007

PENSAMENTO DO DIA



Fim de tarde na Piaza Navona. Saboreando um daqueles gelados que só os italianos sabem fazer. Suave e macio como pele de bébe, quando se beija. Menos feliz, a minha vizinha, com ar de americana com alimentação à base de fast-food. Por isso, contenta-se com uma salada. Ao longe, um conjunto de jovens músicos - cum contra-baixo, um violoncelo, uma viola e dois violinos, interpretam a Eine Kleine Nachtmusik, de Mozart. Nem tudo está perdido. Ainda há jovens com o sentido da beleza das coisas.

FRASE DO DIA


"Cerca de 130 mil carros nas ruas do Porto na hora de ponta matinal"

Título de "PÚBLICO" - 24/9/2007

***

O que vale é que a proibição de fumar está a compensar este fenómeno letal...

FIGURA DO DIA

Marcel Marceau. Desaparecido ontem. Por uma vida de encantamento para os outros...

OS HERÓIS E O MEDO - 34º. fascículo


(continuação)

Zé António concluiu a primária com distinção. Era brilhante. Devorava os ensinamentos, fossem eles do professor ou dos livros, com a raiva enraizada na sem parança da mãe. E o brilhantismo valera-lhe o interesse do professor. Tinham sido longas as conversas entre este e a Jacinta, mais avezada a ver o filho trabalhar, para ajudar, do que vê-lo feito doutor de livros debaixo do braço. É uma pena perder-se este rapaz! Você tem que o deixar continuar! Anda para aí tanto calaceiro a fazer que estuda! É um crime abandonar um miúdo assim esperto! Não se aflija, mulher, que a escola à noite é quase de graça! O pior são os livros. Mas, com um bocado de sorte, da Previdência sempre poderia vir uma ajudazita. Sabe, há umas bolsas de estudo. São pequeninas. Mas sempre ajudam. E o professor lá conseguira a solução de compromisso. Escola à noite e tempo para trabalhar durante o dia. Tudo junto, a mãe acabara por ser convencida.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

Um desporto para gente de muita visão...

23.9.07

CRÓNICA DA SEMANA (I)

Com as alterações recentemente introduzidas no Código do Processo Civil, a generalidade dos processos judiciais e de investigação deixará de estar subordinada ao segredo de justiça. O futuro dirá se isto é bom ou é mau. Mas uma consequência tem desde já: todos nós passaremos a ser jurados, no tribunal da opinião pública, dos processos mais mediáticos. Isto é, vamos ter a possibilidade de, ainda com as investigações em andamento ou com os processos em instrução, poder conhecer pormenores dos casos e formar a nossa própria opinião sobre eles. O que me deixa muito preocupado. Como ainda vimos há pouco, no caso da miúda inglesa desaparecida no Algarve, a opinião pública é muito volúvel em Portugal. Num instante e em função das mais variadas e contraditórias notícias surgidas na comunicação social, passamos da adoração do casal de pais para o seu quase enforcamento na via pública, não sendo de todo estúpido esperar que, brevemente e em função do grande esforço que eles estão a fazer para corrigir a opinião pública a seu favor, os passemos a adorar outra vez.
Há já a possibilidade, em Portugal, de sermos jurados de um julgamento em determinadas circunstâncias. Refiro-me a jurados formais, nomeados pelos tribunais, com assento no julgamento. Para os que não sabem, a função dos jurados, em tais casos, é ouvirem os argumentos de todas as partes envolvidas e, no fim, pronunciarem um veredicto sobre se o réu ou réus são culpados ou não. É uma função muito grave e muito delicada. Porque, da decisão produzida, assim resulta os presumíveis culpados irem para a cadeia ou ficarem em liberdade. Geralmente, os jurados tem a assistência do Juiz, que os guia no modo como a verdade há-de ser procurada. Geralmente, os jurados são prevenidos de que não devem falar com ninguém sobre o caso que estão a apreciar nem serem permeáveis ao que aparecer na comunicação social, a fim de que, a decisão de cada um seja aquela que realmente resulta da sua consciência.
Pois bem. Eu sei que o tribunal da opinião pública não manda ninguém para a cadeia. Mas não é por isso que é menos grave ser jurado nesse tribunal. Por vezes, o tribunal da opinião pública chega a ser mais cruel e a sua condenação mais grave do que ir para a cadeia. Um jurado no tribunal da rua tem a obrigação de ser tão consciente como os jurados formais que são nomeados pelos tribunais. Temos a obrigação de duvidar de todas as provas até que elas sejam irrefutáveis, assim como temos o dever de considerar o réu ou os réus inocentes até que as provas acumuladas não deixem a mínima dúvida de que são culpados.
Esta é, porventura, a mais grave e a mais difícil consequência do quase desaparecimento do segredo de justiça para que devemos estar conscientes e despertos.

Crónica OS JURADOS - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 23/9/2007

PENSAMENTO DO DIA



José Sócrates que se cuide. Meteu-se com a Igreja Católica nos hospitais, pela inteligência do seu inefando Ministro da Saúde. Os comunistas, que fizeram o mesmo pelos idos de setenta e cinco, podem contar-lhe qual é o resultado.

FRASE DO DIA

"A Senhor Merkel (Chanceler da Alemanha) tem no sítio aquilo que alguns confrades europeus não têm."

Marcelo Rebelo de Sousa - citado por "SOL" - 22/9/2007

***

Embora saiba que Marcelo sabe tudo e fala de tudo, desconhecia esta sua paixão pela geografia...

FIGURA DO DIA

Mahmoud Ahmanidejab, Presidente do Irão. Por conscientemente estar a empurrar o seu país para uma guerra mortal contra Israel e os Estados Unidos.

PERGUNTAS SEM RESPOSTA


Que paixão súbita terá levado 15.000 militantes do PSD a pagar as quotas na última semana?

OS HERÓIS E O MEDO - 33º. fascículo

(continuação)

Sem a avença vinda de França, a Jacinta houvera de redobrar esforços. E lá arranjara do senhor Macedo trabalho na padaria. Era dele também. Pegava às dez do serão, trabalhava toda a noite e só largava depois de concluída a limpeza, pão quente a sorrir nos estrados. Acabada a noite, ia ainda fazer as manhãs a casa da senhora, pelas limpezas. Quando regressava, ao começo da tarde, alimentava a filharada, tratava da casa e dormitava um pouco. Ao cair da noite, era tempo de aquecer a sopa e cozer as batatas. Quase sempre as morcelas ajudavam a enfeitar os pratos. Em dia de festa, trazia da vila uns bofes de boi reservados, com alguma generosa escolha, pela fressureira. Guisados com batatas eram manjar de rico. E lá ia para a padaria outra vez. Todos os dias. Todos os meses. Sem férias. O domingo era para lavar e secar a roupa. Não havia sol nem chuva que interrompessem o ciclo monótono daquela vida sem horizonte nem destino nem futuro. Mesmo doente. A generosidade da patroa, sempre a oferecer os restos ainda comestíveis e os trapos mais usados, não chegava para pagar trabalho não feito.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

O melhor é chamar a polícia...

22.9.07

INTERLÚDIO - Elvis Presley - In The Ghetto...

FRASE DO DIA


"Não consigo ver Sócrates como objecto sexual."

Joana Amaral Dias - "SOL" - 22/9/2007

***

Pois olhe, Joana, o homem é quase sempre vibrante! E quase todos os Portugueses sentem já ter tido uma relação sexual com ele...

PENSAMENTO DO DIA

O Ministro das Finanças anuncia défice público recorde para o próximo ano. Entretanto, neste ano, carradas de portugueses demandam Cuba, buscando os cuidados de saúde que não encontram no seu (e nosso) país. Portugal arrisca tornar-se o país subdesenvolvido do Mundo com menor défice per capita.

FIGURA DO DIA

José Sócrates. Pela cena patética, na Assembleia da República, aquando da interpelação de Francisco Louçã sobre o preenchimento de cargos públicos por altos dirigentes privados na mesma área de actividade.

PERGUNTAS SEM RESPOSTA




Que há mais: advogados a defenderem os McCann ou pessoas à procura de Maddie?

OS HERÓIS E O MEDO - 32º. fascículo

(continuação)

Ainda o Zé António mal sabia andar e já um irmão viera fazer-lhe companhia. E logo a seguir outro. E outra. Quando o tempo da primária chegou para o Zé, já eram lá em casa quatro bocas a devorar e duas a mordiscar. Foi quando o Tóne do Valado resolveu ir tentar a sorte lá para as Franças. Afinal, a tantos ela sorrira. Sempre podia ir desenrascar-se, para mandar e trazer algum. Que aquilo não era vida de cristão, com a conta na venda do Zé Migalhas a aumentar a olhos vistos a cada semana passada. Não que fosse ideia do agrado da Jacinta. Mas tanto ele atazanou, tanto remoeu, tanto malhou, que ela acabara por anuir. A gente não se safa, mulher! Isto assim não dá nem pró coalho! Não vês a tua prima Ermelinda, como ela já vive bem com a massa que o homem manda? Resistências quebradas, abalara. Sem ter chegado a apreciar como o Zé António era esperto, sempre o melhor da classe. O professor quisera mesmo, um dia, conhecer os pais do moço para lhes gabar a obra. Mas só conhecera a Jacinta. E o Tóne viria a saber do sucesso daí por uma semana, quando chegara a carta dela. Cartas que andaram, entre lá e cá, durante quase três anos. Com algum dinheiro à mistura, logo abatido ao monte, na venda do Ti'Migalhas, mal chegado. Mas depois as cartas começaram a rarear, a rarear, até que não apareceu mais nenhuma. A Jacinta ainda pedira ajuda ao senhor Macedo para localizar o marido. Sucedera-lhe alguma coisa, lamuriava-se ela. O senhor Macedo era poderoso, tinha muita gente conhecida na capital. E estes conheciam certamente muita gente na estranja. O deputado escrevera, ele próprio, a alguém lá das Franças. Mas do Tóne do Valado nem rasto. Tudo quanto se soube fora que um dia deixara o bidonville, despedindo-se dos amigos. Dissera ir regressar a Portugal. Não souberam mais dele.

(continua)
Magalhães Pinto

SORRISO DO DIA

No meio é que está a virtude...

21.9.07

PENSAMENTO DO DIA


O Primeiro-Ministro inglês, Gordon Brown, não vem à cimeira de Lisboa "Europa/África" se o sanguinário ditador do Zimbabwe, Robert Mugabe estiver presente. Eis alguém que sabe estar vertical quando a Presidência da Europa se aninha.

FRASE DO DIA

"Jardim Gonçalves procura compromisso que adie a assembleia geral (do Millennium/BCP) para 2008."

Título de "PÚBLICO" - 21/9/2007

***

Eu fazia o mesmo. É que um dos pontos da agenda é a redução dos salários dos quadros gerentes do Banco.

(Foto de Jardim Gonçalves de lrocha.mef.googlepages.com)

PERGUNTAS SEM RESPOSTA





Quanto pagará de IRS, este ano, o cidadão português José Mourinho?