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31.3.07

PROVERBIOS

VELHOS SÃO OS TRAPOS

A RTP E VALENTIM LOUREIRO


Não estão em causa as razões que conduziram Valentim Loureiro à condição de arguido. A instrução do processo e o respectivo julgamento, se chegarmos a ele, ditarão a sua culpa e originarão a sentença que for aplicável.

Mas a divulgação, junto da opinião pública, dos telefonemas privados de Valentim Loureiro - sem prejuízo de poderem servir para a boa apreciação jurídica dos factos - é a redução da Justiça Portuguesa ao estado de degradação absoluta. Imagine-se - para já com inteira propriedade, pois toda a gente está inocente até que se prove o contrário - que, no final do processo, Valentim Loureiro é ilibado de culpa. Os prejuízos a ele causados serão absolutamente irreparáveis, qualquer que seja a indemnização a que ele tenha direito seja lá de quem for.

Tal divulgação dos telefonemas privados, em áudio, tornou-se ainda mais asquerosa por ter sido feita pela RTP - sábado, 31 de Março de 2007, secção O PROVEDOR DO TELESPECTADOR - por várias razões. Em primeiro lugar, para lamentavelmente "compensar" o que pode ter sido um erro da mesma RTP, ao solicitar uma entrevista ao mesmo, no qual ele esteve a justificar-se em público. Não tinha nada que o fazer. Em segundo lugar, porque se trata do canal de televisão público, presumivelmente a prestar (profunda ironia!) um serviço público, praticando um acto ilegítimo e, a meu ver, ilegal. Em terceiro lugar porque, sendo um órgão de comunicação de grande audiência, maior foi o dano que provocou.

Não estranho eu, assim, que Valentim Loureiro tenha dito que pretendia "ser julgado na televisão". Uma expressão que, curiosamente, levou muita gente a entender que ele queria fugir ao julgamento judicial, como se verificou no programa da RTP citado. Obviamente, não foi isso. A meu ver, Valentim Loureiro, cuja vida privada - um telefonema é vida privada - tem sido violentamente exposta na via pública, conduzindo praticamente a um julgamento popular, apenas quer que o julgamento tenha cobertura televisiva.

Quando - culpados ou inocentes - sentimos atingidos os nossos direitos fundamentaius, reagimos vigorosamente. Ou não somos dignos de usar a classificação de homens. É apenas por isso - defender os nossos direitos e não apenas um cidadão qualquer, chame-se ele como se chamar - que decidi deixar aqui estas reflexões.

PENSAMENTO DO DIA


É repugnante ver a miséria ainda existente em Portugal, assistir aos sacrifícios sem monta que são pedidos sobretudo aos mais pobres e saber, agora, do esbanjamento de dinheiro público feito por sucessivos Governos, incluindo o presente.

FRASE DO DIA


"Diploma de José Sócrates foi passado pela Universidade Independente num Domingo."

***

Dá gosto. Ainda não era Primeiro-Ministro e já fazia trabalhar no duro!...

INTERLUDIO

Outra canção eterna. Na voz do saudoso Jacques Brel... "Ne me quittes pas"...

ALGURES POR AÍ...

A DUVIDA - 22º. fasciculo

(continuação)

IV

Os escritores contam muitas mentiras nos seus escritos, Maria do Céu! Ainda não há muito, lendo um autor americano em voga, vira dito que o fenómeno humano mais perfeito era o Amor, com tudo inventado há muitos milhares de anos. Afirmava ele não haver, hoje, nenhum comportamento verdadeiramente original no diálogo entre os sexos. Nenhum gesto gesticulado, nenhuma palavra falada, nenhuma frase construída, nenhuma imagem imaginada, nenhuma carícia entregue, podiam já ser verdadeira criação, de tal modo o Amor fora, ao longo dos séculos contados pela humanidade, o fenómeno essencial da existência, dizia ele. Profunda mentira! Descrença inaceitável na capacidade de sentir e de criar das pessoas! Tomados todos em conjunto, podemos sempre fazer mais, podemos sempre fazer novo, podemos sempre ir mais além! E, nessa noite, Maria do Céu, com suavidade, pondo em cada gesto, em cada palavra, um rio de ternura, fazendo da meiguice uma imperceptível brisa apenas aflorando a penugem aloirada dos teus braços, passeando, deleitado, os meus lábios humedecidos por cada segredo do teu corpo, tacteando, com o frémito dos meus dedos medrosamente atrevidos, os teus seios, o teu ventre, o teu sexo, adormecidos, inventando inexistentes palavras, doces e a transbordar carinho, para, agora e logo, depositar nos teus ouvidos, num anseio de comunhão com a tua ausência sensível, banhando os teus olhos com um apelo para que apagássemos do nosso vocabulário o eu e o tu, deixando nós em primeira pessoa do singular, fazendo de cada célula do meu corpo um chamamento, unívoco parecia, de cada célula do teu à vida, ensaiando, tenuemente, a mais íntima carícia, no intuito de te provocar o mais sereno e vagaroso despertar jamais tido por uma mulher, cerrando-te nos meus braços fortes, de modo a não poderes escapulir-te do momento supremo em que o mundo ganha uma só dimensão, explodindo em galáxias de apenas luz, nessa noite, Maria do Céu, eu inventei o Amor! Acrescentei-lhe uma tonalidade até então desconhecida, mista de arco-íris e da côr de todas as flores! Desejando ser um sol a pino, escaldei o teu corpo, no intuito de fazer chegar à tua alma uma labareda da minha fogueira! Desejando ser um vendaval de equinócio, fustiguei a tua alma, no intuito de fazer estremecer o teu corpo! Fiz das mãos uma vagas enormes, dos beijos um ciclone, das palavras um terramoto, até que da carapaça que encobria o teu sentir não restassem senão destroços!

(continua)

SORRISO DO DIA

Se a ideia pega, muita gente vai perder a vontade...

30.3.07

MOMENTO CRIATIVO

Uma pequena maravilha, eleito o video mais criativo, entre milhões, afixados no YouTube em 2006

PENSAMENTO DO DIA


Agora, grande parte dos bébés da Figueira da Foz nasce na rua. Ou numa garagem, como foi ontem o caso. É logo à nascença que os cidadãos portugueses percebem o raio de sítio que escolheram para nascer.

FRASE DO DIA


"A investigação da Polícia Judiciária foi uma porcaria."

Fátima Felgueiras, no tribunal - "Público" - 30/3/2007

***

Redundância. Toda a gente sabe que não se pode mexer na merda sem ser porcaria...

29.3.07

A DUVIDA - 21º. fasciculo

(continuação)

Tal avalanche de palavras era susceptível de rebentar com a barragem mais bem construída do mundo. E agora era verdade, um sorriso, leve sorriso, brincava nos olhos de Maria do Céu. Enquanto mastigava, olhava-a de soslaio, apreciando o seu nariz aquilino, com reminiscências aciganadas. Era realmente bela! Um sabor a vitória temperou ainda melhor o meu bife, na realidade delicioso.

Quando terminamos o jantar, eram já horas para Maria do Céu estar no "Borboleta". Não obstante, nem por uma vez sequer a vi olhar para o relógio. Nem eu lho lembrei. Sentia-me bem, embora levemente inquieto, ansioso, desejoso de um tempo imobilizado que fizesse do momento uma estátua. A hora de deixar o restaurante chegou. Apercebi-me disso quando o chefe de mesa, depois de delicadamente nos ter perguntado se queríamos algo mais, depositou à minha frente a caixa de estanho de onde espreitava a ponta duma factura. Pilares dos quatro cantos da sala, outros tantos empregados, imóveis, olhavam-nos sem expressão, numa exigência muda do fim do dia que nós retardávamos. Saimos, depois de pagar a conta.

Fizemos a longa viagem de elevador em silêncio, olhando-nos. A caminho do parque de estacionamente, ali mesmo ao lado, sentia-a estremecer com um arrepio de frio e, atenciosamente, cobri os seus ombros com o meu braço esquerdo, aconchegando-a a mim. Abri-lhe a porta do carro, fechei-a, dei a volta, entrei, liguei o motor e olhei-a uma vez mais. Para onde vamos? Fixou-se no para-brisas e não me respondeu. Deixei o automóvel deslizar, lentamente, rampa abaixo. E dirigi-me para o meu apartamento.

(continua)

SORRISO DO DIA

Até os comemos...

TESTE


Um homem morreu quando tinha 50 anos. E foi para o céu. Ao chegar, viu milhoes de pessoas, todas completamente despidas e aparentando ter aí uns vinte e um anos. Olhou em redor, procurando alguém conhecido. Nao encontrou ninguém. Mas viu um casal que reconheceu imediatamente serem Adao e Eva.

PORQUE É QUE ELE OS RECONHECEU?

PENSAMENTO DO DIA



A grande mistificação da redução do défice surge às claras, agora, quando se sabe que o Governo gastou em despesas correntes mais de mil milhões de euros em 2006. Um guardanapo para os cantores de hossanas à redução anunciada.

FRASE DO DIA



"Nos Arquivos Mitrokin, existem referências a políticos portugueses, de vários quadrantes, que transmitiram informações aos serviços secretos soviéticos, até 1984, a troco de favores sexuais."

"Tal e Qual", citado por Helena Matos - "Público" - 29/3/2007

***

Enriquecimento de currículo


(Imagem de sapo.com)

28.3.07

MEMORIA


Hoje é afirmado, quase sem lugar para discussão, que o sucesso das empresas está intimamente ligado à qualidade dos serviços que prestam ou dos produtos que vendem aos seus clientes. Como pressuposto deste quase axioma teórico, a noção de que os consumidores estão cada vez mais esclarecidos e que já não comem gato por lebre. Uma noção, todavia, que as empresas sabem ser falsa. Porque bastará, crêem elas, uma boa campanha de publicidade para a negar. E havemos de convir que assim é. O mercado corre atrás do que a publicidade lhe impõe. Exemplo disso é esta monstruosidade dos telefones móveis. Temos dos serviços telefónicos mais caros do mundo. Temos dos serviços telefónicos menos eficientes do mundo. Mas temos milhões de contos gastos em campanhas dos serviços telefónicos. Milhões de contos de publicidade que, naturalmente, encarece o serviço que nos é prestado. E, não obstante, batemos o recorde, pelo menos na Europa, de telefones móveis per capita.

Neste meu deambular pela pesquisa de temas que despertem sorrisos em lugar de raivas, não resisto à tentação de trazer ao conhecimento dos meus Leitores dois casos que tresandam de humor. Porventura negro. Mas o humor negro também faz sorrir, pelo menos. Dois casos que envolvem duas companhias por sinal bastante próximas. A Telecom e a TMN.

***

Precisei recentemente dos serviços da primeira. Por ter mudado o meu escritório. Quis manter o número de que dispunha no anterior, na mesma cidade, a escassos dois quilómetros do anterior. Recebi a visita de um técnico. Prestou-me cerca de vinte e cinco minutos de trabalho. Admito que, além desse trabalho prestado in loco, tenham tido que mexer alguma coisa num computador lá na Telecom. Do modo como hoje são feitas estas coisas, não devem ter gasto mais de cinco minutos. Ao todo, meia hora. Paguei cerca de sessenta contos pelo serviço prestado. Entendi aí porque é que a Telecom pode fazer investimentos no Brasil. Eu pago. Cento e vinte contos à hora é seguramente mais do que leva um técnico de clonagem para fazer um ser humano. Senti-me importante por estar a colaborar no esforço da internacionalização do capital português. Ah! Grande Pinto! Vais ficar na História desta saga das novas Descobertas. Claro que não nos ficamos por aí. A Telecom decidiu debitar-me duas mensalidades de assinatura. Uma pelo local antigo. Outra pelo novo local. Achei que era esforço demais para um simples cidadão. Ou nos esforçamos todos ou haja moralidade. Reclamei. A Telecom corrigiu. Ainda bem que eu estava atento. Senão, a minha contribuição para os lucros da dita empresa ainda havia sido maior.

No fim, uma dúvida insidiosa a bailar no meu espírito. A Autoridade para as Telecomunicações só se preocupa com as tarifas das chamadas ou também com a tabela de preços para os serviços conexos? Pelo sim, pelo não, gostava que se preocupasse com tudo. Para evitar que eu fique com esta enorme sensação de poder ser roubado.
...

Excerto da crónica GENEROSIDADE TELEFÓNICA - Magalhães Pinto - "Vida Económica" - 29/2/2003

(Imagem de Wikipedia)

A DUVIDA - 20º. fasciculo

(continuação)

Fomos. Levei-a a um tranquilo restaurante da parte alta da cidade, bem lá no cimo de um décimo-sétimo andar, arranha-céus quase único duma cidade de tecto baixo. Para lá das vidraças, o lusco-fusco emprestava à urbe os contornos indefinidos duma tela impressionista, a abusar dos tons cinza. Deixei-a passear o silêncio pelo cenário estendido aos seus pés, que Maria do Céu parecia descobrir pela primeira vez. Lampiões acesos madrugadores serviam-lhe de passadeira. De luz branca, pura, como se suspeitassem que quem a calcava era virgem na caminhada. Escolhi a refeição sem a consultar. Marquei-lhe o ritmo, lento, com o objectivo de prolongar a companhia tanto quanto possível. E deixei a conversa debruçar-se, trivialmente, sobre a cidade, num desafio de encontro de referências, daquela perspectiva e àquela luz tornado difícil, para quem usava do burgo só ver os pés. Lá ao fundo, o rio era um pastel, a reflectir difusamente os anúncios dos armazéns de vinho do porto. Apenas ligeiramente mais prateado do que a Cale que lhe ficava por detrás e no topo da qual dois luzeiros piscavam, já com sono. Olha, ali, aquela silhueta negra, só lhe falta a blusa branca para parecer uma miúda conhecida, erguida altaneira sobre a cidade, como velando por ela como quem vela uma criança... Já foi escalada por um homem, orgulhoso do seu Evereste possível... E com razão!... O que importa não é fazeres melhor do que os outros, é fazeres o melhor que possas... Por isso, a basbaqueira só aparentemente foi provinciana... Sabe bem ver alguém dar o melhor de si, nem que seja um grão de coragem apenas... Um pouquinho mais à esquerda, aquela outra igreja, sabes qual é?... Não, a Lapa fica aqui mesmo, ali, aquela... Já estou a ver, da geografia da tua cidade só conheces os rios... Está bem, não é a tua cidade, mas é a cidade onde vives!... Por falar nisso, ainda não me disseste onde nasceste... Deixa lá... Sabes, então, qual é aquela lá no topo, colada mesmo à Torre dos Clérigos?... Olha, repara bem... Parece mesmo uma nascente da Serra da Estrela, perdida entre calhaus... Tal como lá, também dali escorrem até ao rio, como se fossem cataratas, meia dúzia de vielas estreitíssimas, com requebros de nazarena virando, a quem não faltam sequer as sete saias a esvoaçar das janelas... Claro, é a Sé!... Diz-se que, à noite, ninguém lá pode andar, a não ser com uma naifa bem afiada; mas não acredites, há muito mais crime, sem o benefício da reputação, noutras zonas da cidade... Ali, como noutros bairros da cidade, há gente que sua de sol a sol e gente que só se levanta já a lua vai alta... Há gente que odeia e gente que ama... Há velhos, há jovens, há crianças... Há filhos gerados pela volúpia e há filhos gerados por amor... Não há muita diferença assim entre a Sé e a Foz... A não ser, talvez, no revestimento do pavimento, de granito duro na Sé e de alcatrão macio na Foz... Olha ali, outra igreja, sabes qual é?... É incrível, não te parece?... Na lufa-lufa de cada dia, a gente nem se dá conta ter esta nossa cidade uma igreja em cada canto!... Não, não é nenhum avião, aquilo, é o farol de Leça a mandar as traineiras quedarem-se pelo largo, há por ali muita penedo desde o tempo do António Nobre... Não, não era nenhum fidalgo... Tinha a alma mais simples que a dum pescador de sável... Ah! aquele coador de luz... deve haver por lá alguma exposição, para estar assim tão iluminado... Olha, engraçado é ver do outro lado... Daqui não se vê, hei-de lá ir contigo... é ver os arcos de Miragaia com aquilo pousado em cima; não se sabe bem se é ficção científica, com uma nave acabadinha de chegar a um planeta dez mil anos atrasado, ou se é uma centopeia com um par de olhos coruscantes para cada perna, no dorso da qual viaja uma romaria minhota... Repara como começam a piscar os anúncios luminosos da baixa... Pirilampos duma aldeia evoluída, não sei se alguém repara neles... Mas cumprem a sua função de animação silenciosa o melhor que podem... Jogam às escondidas com os transeuntes que se dirigem para os cinemas... É bom haver cinemas na baixa, sabes, Maria do Céu... E o Rialto aberto até às duas da madrugada... Ou a Brasileira, onde os artistas de teatro vão espevitar o sono, antes de partirem para o Transmontano, na gula duma ceia quase matinal... Ou o Guarani... engraçado o Guarani... Se quisesses, podias fazer uma orquestra sinfónica com os instrumentos que por lá poisam, depois dos bailes ou da revista... É bom haver tudo isso lá por baixo...Senão, aquilo ficava um deserto... Mais morto do que nos parece aqui de cima. nBom, vamos à papa... este bife está a chamar-nos...

(continua)

SORRISO DO DIA

Início das obras na OTA...

PENSAMENTO DO DIA


Há elefantes em Portugal. Brancos. E otários. Se, a isto, juntarmos as muitas macacadas que vao por aí, já nos falta muito pouco para sermos o jardim zoológico da Europa.

FRASE DO DIA


"O que está escrito, ou devia estar escrito, nos códigos, mais do que centrar em formalismos processuais, devia ter como preocupaç\ao basilar proteger os direitos de quem, numa disputa, é a parte mais fraca."

José Menuel Fernandes - "Público" - 28/3/2007

***

A mais bela síntese do essencial de um Código de Justiça que vi até hoje.

(imagem de chabad.org.br)

27.3.07

CRONICA DA SEMANA


Somos um país de otários. Não entendemos nada. Não é de nada. Não entendemos nada da OTA. É capaz de ser atitude avisada. Na OTA sê otário, já os romanos diziam. E deve ser o que está a dar. Bastou-me ver aquele olhar de complacente supeiroridade e aquele sorriso melifluamente competente do senhor professor engenheiro que, no "Prós e Contras" da televisão - desculpem, mas não conhecia o senhor e esqueci-me do nome - a arrumar para canto os mil e um argumentos que, no debate, foram surgindo contra o NAL. Eu até ia a dizer o TAL. Até ficava bem: OTA, Otal. Meio Ota, meio Lisboa. Mas não é. É do NAL que falamos hoje. NAL. Novo Aeroporto de Lisboa. A cinquenta quilómetros da dita. Lisboa. Aliás, se se chamasse Otal, dava uma trabalheira enorme explicar porque é que seríamos onários e não otários.

Isto traz-me à memória um episódio ridículamente provinciano. Do Aeroporto do Porto. Que toda a gente chamava de Pedras Rubras. As quais, Pedras, Matosinhos dizia serem suas. Só que o Aeroporto estava um pedaço em Matosinhos e outro pedaço na Maia. Daí que cada qual, tanto Matosinhos como a Maia, reclamassem como seu o Aeroporto do… Porto.

Adiante. Voltemos à Ota. É para isso que ele será feito. Para ir e voltar. Pois parece que está tudo decidido. Pelo menos foi o que deram a entender o tal profe engenheiro e o presidente do NAL. Sim. Que a primeira coisa que fazemos em Portugal quando pensamos algo novo é nomear um presidente. Parece que este ainda não tinha sido despedido de nenhuma empresa pública ou quase pública com muitos milhares de indemnização. Valha isso. É uma honrosa excepção. Segundo os dois, é fácil saber porque é que tem que ser na OTA. Por duas razões fundamentais. Porque não há tempo e porque não há tempo. Isto é, o da Portela está a rebentar pelas costuras. Embora tenha ficado claro, no tal debate, que se os chineses começarem a viajar muito para a Europa, também o NAL vai rebentar pelas costuras muito depressa, porque não haverá mais tecido de onde alargar as ditas. Costuras. Mas não podemos correr o risco de que o da Portela rebente e derrame chineses aí por tudo quanto é esgoto em Lisboa. Nem dava jeito para o fado. Já viram o que era dizer "Ó Portela, fecha a janela", aflitos, em lugar de salvar a tradição e confirmar "Ó Portela, vem à janela!".

Portanto, não há tempo e não há tempo. Graças a Deus! Já houve tempo em que o que não havia em Portugal era o dinheiro. Agora é o tempo em qie não há tempo. E não há tempo porque vamos ter que mudar a face da terra. Salvo seja! Não estou a dizer que sejamos hitleres. Foi um modo de dizer. Porque durante cerca de dois anos e meio, vamos ter que andar a carregar terra de um lado para o outro. Julgo que isto é keynesianismo puro. Era o economista inglês que dizia, para resolver o problema do emprego: "Ó senhores! Abram buracos na rua e voltem a tapá-los!". Ah! grande Keynes! Quase um século depois, ainda há quem te siga! Pois aí vamos nós. Abrir buracos. Melhor, um grande buraco, que o nosso aeroporto não vai ser para avionetas.

...

Depois, temos que atender que há grande desemprego no país. Claro que é principalmente no Norte, onde a taxa está quase a atingir os míticos dois dígitos, que nem no tempo das grandes crises se verificou em Portugal. Mas não há problema. Como também vamos fazer o TGV, é só despachar os desempregados nortenhos - aqui, com toda a propriedade, em grande velocidade - para o Sul. Estou mesmo em crer que foi por isso que os Portugueses elegeram Salazar como o Maior Português. É que ele advogava que a maioria do país devia estar a trabalhar a terra. Foi com uma horta à porta de cada português que ele arranjou trabalho para todos. E aí vamos nós imitar os grandes exemplos. Claro que muita gente fugiu da província e será por isso que vamos trabalhar a horta à porta dos lisboetas.

Portanto, seus Otários (isto é para todos os outros menos Você, meu Caro Leitor), vamos lá deixar de discussões à volta do NAL. Sabe quem pode e pode quem sabe. Há para aí tantos espertinhos a dizer que isto não está bem. Mas se sabem, não podem. E aqueles que, eventualmente, poderiam, não sabem. E nada de preocupações com o dinheiro. Cortam-se uns subsidiozitos de emprego com o emprego na terra. Fecham-se algumas urgências porque, com a falta de tempo anotada, quem é que vai ter tempo para estar doente? Põe-se o quadro de excedentários a trabalhar a terra também. Caçam-se mais uns patifes que andam a fugir aos impostos (vulgarmente conhecidos como os Não-Otários). Cortamos nas comparticipações nos medicamentos, em antecipação à queda de preço que a eficiência de um novo aeroportio vai trazer ao seu transporte. Deixa de haver preocupação com a fome, porque com horta à porta ninguém passa fome. Se for necessário, aumentam-se as taxas moderadoras nos hospitais. E se, mesmo assim, faltar dinheiro, vão ser só uns trocos.

E teremos o NAL. Razão do nosso orgulho. Pelo menos até ao ano da graça de 2050.

Excerto da crónica UM PAÍS DE OTÁRIOS - Magalhães Pinto - "Vida Económica" - 28/3/2007

(Imagem de Wikipedia)

A DUVIDA - 19º. fasciculo

(continuação)

Ao fim dum século, Maria do Céu surgiu no topo do lanço inferior das escadas. Deteve-se um momento, um leve ar de surpresa a enrugar-lhe o sobrolho. Elegante, no seu fato preto e blusa branca. Agarrou-me por pouco, estava de saída... O tuteio da noite de intimidade esfumara-se, cerimónia imposta pela mudança de circunstâncias. A luz difusa, vinda de cima, deixava o seu rosto mergulhado na penumbra, ampliando o enigma. De longe ainda, estendi-lhe a mão, mais como convite do que como auxílio. Com uma dignidade indiferente, aos meus olhos se afigurando imperial, desceu os últimos degraus e interrogou-me mudamente. Propuz-lhe um jantar em comum e associei as suas reticências à perda dos proventos desse dia, melhor dizendo, dessa noite. Quase deixava escapar, irritado, que a compensaria de tal perda, mas prevaleceu o meu desejo de sucesso sem a intervenção do dinheiro. Insisti, tão delicadamente quanto sabia. Afinal, sempre tinha que jantar e mais valia fazê-lo acompanhada. Tanto quanto eu julgava, já bastava de solidão, sua companheira preferida, no seu quarto, no quarto dos outros, próprios ou alugados à hora. Quem me contara viver ela sózinha? Era óbvio, bastava ver com olhos de ver, com estes que a terra havia de comer, o fundo dos seus: nada! Pobrezinhos dos vermes, iam todos morrer à fome, daí por uns cinquenta anos, logo chegassem aos seus olhos! Estes continuavam vazios. Pelo menos, entre as pestanas e a cortina, permanentemente baixada, que escondia o palco da sua alma.

Não sei se foi impressão minha ou se realmente, e pela primeira vez, uma expressão divertida perpassou, como um raio, no negrume dos teus olhos, Maria do Céu, quando te convidei para jantar. Deve ter sido apenas ilusão, pois, logo de seguida, aceitaste o convite, com a indiferença dum peixe no aquário. Nem sequer o trejeito enfadado duma criança a quem não apetece comer a sopa. Nem sequer a agitação duma pomba da Avenida, quando se lhe atiram umas migalhas de pão. Nem desalento, nem euforia, nem sequer um sorriso de agradecimento. Vamos, disseste, quase com a frieza com que, seguramente, caminhavas para os quartos oficina da tua profissão! Abafei a auto-censura, a aflorar em mim pela iniciativa, com os cobertores da minha determinação.

(continua)

SORRISO DO DIA

A cada um seu trabalho....

PENSAMENTO DO DIA


Mais outra. Administrador da GALP é despedido e leva meio milhão de euros de indemnização. Para, menos de um ano depois, ir para administrador da REN. Tudo feito pelo Governo que Deus nos deu. E trabalhador que aceita despedimento por acordo não tem direito ao subsídio de desemprego. O saque continua.

FRASE DO DIA


"A eleição de Salazar (como o Maior Português de sempre)é a morte simbólica do '25 de Abril'."

Eduardo Lourenço - citado pelo "Público" - 27/3/2007

***

Engano do grande pensador. O '25 de Abril' estava já morto há muito tempo. E os assassinos foram aqueles que o fizeram. Quando muito, só agora se realizou o funeral.

26.3.07

SORRISO DO DIA

Até parece demonstração da campanha contra acidentes de trânsito...

A DUVIDA - 18º. fasciculo

(continuação)

Julgo que a tua fuga do nosso primeiro contacto foi uma premonição, Maria do Céu. Uma recusa ao envolvimento que iria marcar as nossas vidas. Ansiosamente, reconheço hoje, procurei-te. E parecia um colegial à espera do primeiro beijo, Maria do Céu, enquanto aguardei informações que me levassem até ti, fora do ambiente onde o nosso encontro teria sempre a mercantil conotação duma transacção suja e desonesta, me parecia agora. Insidiosamente, naqueles dias seguintes ao nosso primeiro encontro, a tua lonjura ia-se apoderando de mim, criando esta sensação de incompleto, hoje de novo parte do meio homem que me sinto. Intuí, nessa tarde, os nossos destinos projectados, em conjunto, muito para além da minha descoberta das razões para a meia mulher adivinhada em ti.


Eram quase sete horas quando a Zélia me telefonou para o jornal. Localizara o poiso habitual de Maria do Céu fora das horas de expediente, como ela disse. Uma pensão de segunda, na zona de Antero de Quental. Saí ligeiro, avisando que não voltaria nessa noite. Toquei à campaínha. Uma empregadita, traços de aldeã ainda por desbravar, abriu a porta, com um misto de curiosidade e cumplicidade. Mandou-me entrar e esperar, quando lhe disse ir por Maria do Céu. A ver se estava. Passei ao corredor, na circunstância pomposamente chamado de sala de espera. Dois sofás individuais e um cinzeiro de pé alto, no meio, com duas ou três pontas de cigarro esmagadas com nervosismo, notava-se. Em frente, um pequeno balcão, não mais de meio metro de comprido, dificilmente poderia ser chamado de recepção. O livro de registo de hóspedes, nele pousado, e as cavilhas dum pbx pré-histórico, davam-lhe o toque mínimo necessário à identificação. Ao lado, uma escada, deficientemente iluminada por uma ténue claridade a despejar-se da clarabóia, situada três pisos acima. Não era preciso ser um especialista das andanças nocturnas da cidade, para perceber que os quartos situados nos andares superiores deveriam ter uma taxa de ocupação diária superior a cem por cento. Algures, no rés-do-chão, uma criança chorava, desalmadamente, enquanto uma esganiçada voz de mulher insistia com ela. Come a sopa, Chana. Come a sopa, Chana. Ainda ta enfio pelas goelas abaixo. Come a sopa, Chana. Sopa que, pelos vistos, a Chana se recusava a comer, enquanto subia de tom no seu berreiro. De longe a longe, a descarga dum autoclismo lá por cima ganhava os contornos melódicos duma orquestra a querer acompanhar o solo agudo da Chana.

(continua)

ESPAGNE - EXTREMADURA - JESUS - MUNOZ - SACRILEGE


CE POST, CONCERNANT LE THEME DES PHOTOS DE JESUS POSTEES A UNE AUTRE PLACE DE CE BLOG, A POUR OBJECTIF DENONCER:

- LA COCHONNERIE DE MUÑOZ, EN EXTREMADURA, ESPAGNE, C'EST UNE OFFENSE POUR LES CATHOLIQUES DE TOUT LE MONDE;

- C'EST AUSSI UNE OFFENSE POUR CEUX QUI ONT D'AUTRES RELIGIONS;

- EN PLUS, C'EST UNE OFFENSE POUR TOUS CEUX QUI, N'AYANT AUCUNE RELIGION, RESPECTENT CEUX QUI EN ONT;

- ALORS, C'EST UNE OFFENSE PRATIQUEMENT CONTRE TOUT LE MONDE;

- AVEC UNE EXCEPTION PEUT-ÊTRE: JOSE LUIZ ZAPATERO, PREMIER MINISTRE D'ESPAGNE, QUI N'A DIT RIEN JUSQU'À CE MOMENT;

- EN PLUS, C'EST UNE OFFENSE STUPIDE, CAR ELLA A ÉTÉ PAYÉ POUR DES IMPÔTS DES CROYANTS AUSSI.

SPAIN - EXTREMADURA - JESUS - MUNOZ - OFFENSE


THIS POST HAS THE PURPOSE TO SAY, CONCERNING THE IMAGES BELOW POSTED WITH OFFENSIVE PHOTOS, THAT:

- FRANCISCO MUÑOZ DIRT, AT EXTREMADURA, SPAIN, HAS OFFENDED ALL CATHOLICS AROUND THE WORLD;

- IT HAS OFFENDED ALSO ALL THOSE THAT HAVE ANY OTHER RELIGION;

- IT HAS ALSO OFFENDED ALL THOSE THAT, HAVING NO RELIGION, RESPECT THOSE THAT HAVE IT;

- SO, IT HAS OFFENDED PRACTICALLY ALL THE WORLD;

- APPARENTLY, WITH AN EXCEPTION: JOSE LUIZ ZAPATERO, PRIME MINISTER OF SPAIN, UP TO KNOW QUIET AS A RAT.

- MOREOVER, IT HAS BEEN A STUPID OFFENSE, AS IT HAS BEEN PAID WITH MONEY COMING FROM TAXES OF BELIEVERS.

ESPANA - EXTREMADURA - JESUS - MUNOZ - SACRILEGIO


ESTE POST TIENE POR OBJECTIVO DECIR, A PROPOSITO DE LO QUE RELATAMOS EN PORTUGUES ABAJO, QUE:

- LA PORQUERIA DE FRANCISCO MUÑOZ, EN EXTREMADURA, HA OFENDIDO LOS CATOLICOS DE TODO EL MUNDO;

- TAMBIEN HA OFENDIDO A TODOS QUE SE CREEN EN ALGO METAFISICO QUE NOS GOBIERNA;

- TAMBIEN HA OFENDIDO A TODOS QUE NO TIENEN NINGUNA RELIGION PERO SABEN QUE ES NECESARIO A TODOS RESPETAR;

- POR ESO, LA OFENSA HA SIDO CONTRA TODO EL MUNDO;

- APARENTEMENTE, SOLO NO HA OFENDIDO A UNA PERSONA: JOSE LUIZ ZAPATERO, QUE ESTA CALLADO COMO UN RATON.

- Y ADEMAS, HA SIDO ESTUPIDO, PORQUE HA SIDO PAGADO CON LOS IMPUESTOS DE LOS CIUDADOS OFENDIDOS.

DESCALABRO EM ESPANHA



Hesitei muito antes de colocar aqui estas imagens, que mão amiga me fez chegar. Para vermos até que ponto chega a pouca vergonha dos políticos, estas imagens fazem parte de um catálogo artistico da Província da Extremadura, no país vizinho, de autoria de um tal Montoya, prefaciado e subvencionado (com dinheiros públicos) pelo conselheiro de Cultura da respectiva Junta Provincial, Francisco Muñoz.

Nem quero pensar que isto sucede porque a Junta é de maioria e governo socialista. Mas é significatico que Zapatero, o Primeiro-Ministro espanhol, que tão pronto censurou o autor dinamarquês de umas caricaturas de Maomé, provocadoras de um famoso incidente com os árabes, se tenha calado perante este descalabro.

EXAME DE FÍSICA


Isto é de quem percebe as coisas, não de quem decora! Provavelmente, estamos na presença de um futuro Prémio Nobel da Física. Português, claro.

Resposta num exame de Física na Universidade de Aveiro

O Dr. X (vamos manter o anonimato na medida do possível), do Dep. de Física da Universidade de Aveiro, é conhecido por fazer perguntas do tipo:

"Porque é que o aviões voam?".

A sua única questão na prova final de Maio de 1997, para a turma da cadeira de "Transmissão de Movimento, Massa e Calor II" foi:

"O INFERNO é EXOTÉRMICO OU ENDOTÉRMICO? Justifique a sua resposta." (ou seja, pretendia saber se o Inferno é um sistema que liberta calor ou se recebe calor).

Vários alunos justificaram as suas opiniões baseados na Lei de Boyle ou em alguma variante da mesma. Mas houve um aluno, Y, que respondeu o seguinte:

«Primeiramente, postulamos que, se as almas existem, então devem ter alguma massa. Se tiverem, então uma mole de almas também tem massa. Então, em que percentagem é que as almas estão a entrar e a sair do inferno? Eu acho que podemos assumir seguramente que uma vez que uma alma entra no inferno nunca mais sai. Por isso, não há almas a sair. Para as almas que entram no inferno, vamos dar uma olhadela às diferentes religiões que existem no mundo, hoje em dia.

Algumas dessas religiões pregam que, se não pertenceres a ela, então vais para o inferno. Como há mais de uma religião desse tipo e as pessoas não possuem duas religiões, podemos projectar que todas as pessoas e almas vão para o inferno. Com as taxas de natalidade e mortalidade da maneira que estão, podemos esperar um crescimento exponencial das almas no inferno.

Agora vamos olhar para a taxa de mudança de volume no inferno. A Lei de Boyle diz que para a temperatura e a pressão no inferno serem constantes, a relação entre a massa das almas e o volume do Inferno também deve ser constante. Existem então duas opções:

1) Se o inferno se expandir numa taxa menor do que a taxa com que as almas entram, então a temperatura e a pressão no inferno vão aumentar até ele explodir.

2) Se o inferno se estiver a expandir numa taxa maior do que a de entrada de almas, então a temperatura e a pressão irão baixar até que o inferno se congele.

Então, qual das duas opções é a correcta? Se nós aceitarmos o que me disse a Teresa, minha colega do primeiro ano: "Haverá uma noite fria no inferno antes de eu ir para a cama contigo" e levando em conta que ainda NÃO obtive sucesso na tentativa de fazer amor com ela, então a opção 2 não é verdadeira. OU SEJA, O INFERNO é EXOTÉRMICO.»

***

O aluno Y tirou o único "20" na turma. E na minha opinião, merecia ir para a cama com a Teresa...

(Gentileza de JG)

PENSAMENTO DO DIA


O Presidente da República não convidou Mário Soares para celebrar o aniversário da União Europeia. Cavaco Silva sempre me faz recordar a peça teatral "Esta Noite Choveu Prata", que vi na juventude, com o saudoso João Villaret. Uma peça curiosa. Só tem um actor.

FRASE DO DIA


"Desemprego não pára de crescer e chega aos 9,7% na Região Norte."

Título do "Público" - 26/3/2007

***

Um nadinha de paciência. Os desempregados nortenhos vão poder ir todos para a OTA, carregar terra...

25.3.07

SORRISO DO DIA

O sentido pratico num passaporte de PALOP...


(Imagem gentileza de JFR)

A DUVIDA - 17º. fasciculo

(continuação)

Regressei ao "Borboleta Negra", ao fim duma semana. Era sábado. No meu íntimo, sabia ser Maria do Céu a causa, embora trejurasse a mim mesmo que estava a precisar de distracção, depois de tantos dias afogado no trabalho. Acabei por vir pior do que fora. Nem sombra de Maria do Céu. O orgulho não me deixou senão perguntar por ela discretamente. Sem sucesso. Deve andar por aí... Se calhar teve engate para o serão... Não sei quem é... Porquê?... Eu não sirvo?... Saí cedo, agoniado. Tudo aquilo me estava a parecer sem sentido.

No domingo, impulsionado pela recusa do insucesso, telefonei à Zélia. Era quase meio-dia. Manhã cedo, para o enxame que, de noite, dava à cidade um colorido mal percebido. Liguei-lhe para casa, despertando-a do seu primeiro sono. Privilégio de cliente habitual, quase amigo. O fio transportou até mim uma voz enrolada. Pareceu-me sentir-lhe o hálito. Levemente excitada, quando se apercebeu do interlocutor. Logo desanimada, quando entendeu as intenções do telefonema. Julgas que sou uma agência de informações?... Porque não vês nas páginas amarelas?...

Teve alguma dificuldade em identificar o objecto do meu interesse. Maria do Céu ainda não tivera tempo de construir a ficha curricular no "Borboleta". Por fim, localizou-a na sua galeria imensa de retratos arquivados. Não, não sabia como podia ser contactada fora do dancing. Mas iria tentar saber, embora a amofinasse a concorrência, particularmente fora de horas. Logo me diria, era só tempo de fazer alguns telefonemas.

(continua)

OTA - ALGUMAS VERDADES OCULTAS

Aqui está prevista a implantação do Aeroporto da OTA (NAL), com a A1 em primeiro plano e a Serra de Montejunto ao fundo:


Tal local é uma zona de aluvião, com altitudes de 2 a 3 metros, onde confluem três linhas de água:
- O Rio de Alenquer (no limite sul);

- A Ribeira e o Paul do Alvarinho (atravessa a zona central do NAL); e

- o Rio e o Paul da Ota (coincidente com a pista ESTE do NAL).



No enfiamento das pistas, a Norte, existe o Monte Redondo; um obstáculo ou a necessidade de remover:


Para aterrar e nivelar a zona da plataforma, com 20 metros de altura, será necessário movimentar cerca de 50 milhões de metros cúbicos de terra.

Para se fazer ideia do que isto representa, veja-se a que é equivalente:

- A escavar um buraco no chão, sensivelmente com a superfície de um campo de futebol e com 10 quilómetros de profundidade;

- A fazer um muro com 5 metros de largura e 10 metros de altura (sensivelmente como a Muralha da China), com uma extensão de 1.000 quilómetros;

- Encher o Terreiro do Paço, a Baixa Pombalina e as Avenidas até ao Campo Grande com um monte de terra da altura da Ponte 25 de Abril (80 metros de altura);



O solo de fundação é constituído por lodos com 20 metros de espessura. Para melhoria das condições de fundação, foi escolhida a solução de tratamento com estacas de brita. Isto é, são 20 metros de terra assente em "pilares" mergulhados em 20 metros de lodo; uma espécie de ponte. Para se fazer uma ideia da estacaria, anote-se:

- São 235.617 estacas;

- Com 0,9 m de diâmetro e em quadrícula de 2 metros de lado, representa uma construção com mais de 2.600 kms. de comprimento.

Têm-se por muito desfavoráveis as condições de estabilidade deste aterro, particularmente considerando a acção sísmica.

O desvio da Ribeira do Alvarinho, prioritário, movimenta 2,5 milhões de m3 de terra, equivalente a uma fila de 35.000 camiões.

Só para os trabalhos de movimentação de terras são necessários dois anos e meio. Compare-se isto com o argumento de que não há tempo para estudar alternativas à OTA.

A localização na OTA compromete a futura expansão do NAL.

***

Posto isto, TRÊS questões e UM comentário:

QUESTÕES:

- Os dados que serviram de base a esta informação constavam de um relatório da NAER - Novo Aeroporto S.A., elaborado por Parson FCG, que esteve disponível no site da NAER - www.naer.pt - e desapareceu. PORQUÊ?

- O próprio site da NAER está inacessível no momento em que escrevo isto. PORQUÊ?

- PORQUE É QUE O GOVERNO, CONTRA TANTAS OPINIÕES, INSISTE NAQUILO QUE PARECE SER UMA AUTÊNTICA BARBARIDADE?


COMENTÁRIO:

Apesar de tanta movimentação de terras, provavelmente o que ficará da OTA é um GRANDE BURACO...

(Agradecimentos a ILB e a Engº LLP)

A DUVIDA - 16º. fasciculo

(continuação)

III


Nos dias seguintes, atirei-me ao trabalho com afã, almejando esquecer o episódio de Maria do Céu. Ego amachucado pelo comportamento da rapariga. Nem o dinheiro recebera, numa afirmação de altivez que, por contraste, me rebaixava. Estava habituado a ser eu a mandar, no relacionamento com as mulheres. Na única vez em que não mandara, a minha alma sentira o ferro em brasa da impotência a marcá-la para sempre. Jurara a mim mesmo não mais me deixar enrodilhar nas lianas dos sentimentos. A ser frio, distante, dominador, como cumpria ao macho rei da criação. Maria do Céu aparecia como a primeira ameaça aos meus propósitos.

Não obstante o meu horário fosse exclusivamente do início da tarde até à entrada do jornal na rotativa, passei tempos esquecidos na redacção, desde manhã pequena até altas horas, na tentativa de dedicar toda a minha atenção aos telexes que havia de converter em notícia. Sem resultado. A lembrança de Maria do Céu não me abandonava, dia e noite. Impressa no meu espírito em escuros tons de enigma. Ao deitar-me, ensaiava afogar na leitura da última novidade literária a revisão do nosso convívio, no tempo escasso daquela noite avulsa. A voltar atrás, página sim, página não, enredo perdido em deambulações sem nexo. Cansado e ensonado, apagava a luz e ensaiava dormir, com o resultado único de progressivamente retornar a um agudo estado de excitação espiritual e recorrer, tarde jà, ao barco dolente dum soporífero, para chegar ao sono. E, mesmo assim, para a obsessão tomar, no sonho, foros de realidade subjectiva, mais correspondente aos desejos que me cegavam, quando desperto, do que à possibilidade de os realizar, adormecido.

(continua)

SORRISO DO DIA

Esquisito jaguar... Como terá ido ali parar?...

PENSAMENTO DO DIA


Os Estados Unidos da Europa são a mais bela ideia política europeia do século XX. O meu receio é que o Século XXI acabe por estragá-la.

FRASE DO DIA


"Mas la berdade ye que todos esses cursos chégan a poucas pessonas de cada beç i eisigen un sfuorço mui grande de quien los dá, a las bezes cun fracos resultados."

Amadeu Ferreira (em mirandês) - "Público" - 25/3/2007

***

Vê-se logo que as terras de Miranda estão infinitamente longe de Bruxelas e ainda mais de Lisboa... Se assim não fosse, não faltariam cursos nem que fosse para aprender a estrelar ovos...

24.3.07

INTERLUDIO

"La Bohème", Aznavour e algumas imagens inspiradores de emoções variadas...

FRASE DO DIA


"Governo 'assalta' Metro do Porto."

Título do "Expresso" - 24/3/2007

***

Eu bem disse. Não instalaram atempadamente a video-vigilância e, agora, queixem-se...

PENSAMENTO DO DIA


O Tribunal de Contas mostrou o autêntico forrobódó que por aí vai, nas autarquias, no pagamento de remunerações aos autarcas. Para isso, pagamos o IMI às taxas mais elevadas, a água ao preço da cerveja, impostos disfarçados de taxas, direitos de passagem dos cabos telefónicos ou de televisão, o imposto do lixo. Uma grande parte dos autarcas são autênticas sanguessugas. É fartar, vilanagem!

SORRISO DO DIA

Escusavam de andar a fazer publicidade...

A DUVIDA - 15º. fasciculo

(continuação)

Fiquei largo tempo a observar a sua beleza, apenas vestida pela tranquilidade do sono. E tentei prescrutar os mistérios insondáveis que faziam dela uma mulher única. Onde as outras mentiam, ela falava verdade. Onde as outras fingiam um prazer inexistente, ela assumia a impossibilidade de o atingir. Incongruente entre o ser e o estar. Dir-se-ia sacando a alma do corpo antes de prevertida, esfarrapada, destruída, pela profissão escolhida.

Apaguei a luz, congeminando um plano que me levasse a conhecê-la. E adormeci também. Quando acordei, já não estava junto a mim. Corri ao quarto de banho, à sua procura, em vão. Havia saído sem eu dar conta. Não recebera o tratado. Senti-me ofendido. Não precisava dos favores duma prostituta. Quem pensava ela que eu era? Algum proxeneta ou quê? Mas ao barbear-me, na difusa imagem reflectida pelo vapor de água quente depositado no espelho, sobressaíam dois olhos lindos, não obstante a opacidade que os vestia. Não eram meus.

(continua)

23.3.07

SUGESTAO TURISTICA



JAMAICA


A alegria das Caraíbas, nesta ilha cujo nome significa terra de "madeira e água".


Repleta de reminiscencias históricas, a Jamaica foi descoberta por Cristóvao Colombo, que dela fez propriedade privada da sua família, tendo depois passado para o domínio da coroa espanhola. Até que os ingleses se apossaram dela.


Terra de piratas e de escravos, estes últimos viriam a ser em tao grande número que, revoltando-se, adquiriram a independencia. A alegria, expressa na sua música e danças, resultam dessas origens.


De longas e finas praias, a Jamaica oferece ainda ambientes paradisíacos, para deleite dos sentidos.


Particularmente belo o azul do seu céu. E particularmente confortáveis, os bons hotéis para acolhimento dos turistas.


Viagem e sete noites de estadia, tudo incluído (menos taxas): ap.: 950 euros/Pessoa

(Gentileza de Viagens 747)

PENSAMENTO DO DIA


Os que, apressadamente, censuram o comportamento eleitoralista de Jardim, na Madeira, esquecem que é igual ao de milhares de autarcas e de dezenas de governantes no continente. Esperem só e verão quando é que os nossos impostos vão baixar.

FRASE DO DIA


"Tinha tosse. Fui ao médico. Tudo bem, disse. A tosse continuou. Voltei ao médico. Gripe, disse. Continuou a tosse. Fui ao Hospital. Pneumonia, disseram. Veio a temperatura. Tuberculose, foi o diagnóstico final."

Ana, estudante de medicina - "Público" - 23/3/2007

***

Ao mesmo tempo, as virtudes da Educação e da Saúde nacionais. Esta futura médica leva já um currículo estupendo...

A DUVIDA - 14º. fasciculo

(continuação)

Sabes, Maria do Céu?... Não devemos nunca levantar um dedo sem pensar aonde vamos pousar a mão, de seguida. Se não fizermos assim, arriscamo-nos a que o braço não seja mais do que um balão arrastado pelos irónicos ventos da sorte. A tua atitude daquela noite era um desafio. Há muito tempo sem desafios, eu decidi aceitá-lo. Não te deixaria enquanto não conseguisse ver em ti uma chispa de vida, fugaz fosse ela. Um sorriso, um olhar, uma lágrima, até uma ira. Sobretudo enquanto não obtivesse resposta às perguntas feitas e habilmente iludidas. Quem eras, que fazias, porque estavas ali. Pareceu-me ver-te estremecer, como se um súbito arrepio de frio te tivesse percorrido, quando te perguntei donde eras. Mas cuidei ter-me enganado. Que podia ser mais gélido do que tu? As respostas recusadas, ali, no meio daquele estrépito todo, talvez as conseguisse na intimidade, pensei. Por isso te sugeri que ficássemos juntos até ser de manhã. Profissionalmente, disseste-me quanto isso me custaria. Nem ouvi. Nesse momento, daria toda a minha riqueza para ter a oportunidade de rebentar o casulo da tua reserva e ver, às claras, o teu ser real. Levei-te para o meu apartamento. Amei-te, com o vigor e a ternura há muito tempo esquecidos. Tentei fazer-te correr, à desfilada, pelas veredas de suaves sensações. Desdobrei-me. Acarinhei-te mansamente, percorrendo o teu corpo como uma brisa outonal de fim de tarde. Fiz das minhas mãos penas de ninho a aconchegar o frio do teu inverno. Fiz dos meus lábios uma flor de primavera a perfumar as grutas do teu recolhimento. O meu corpo a arder tentou provocar-te um incêndio estival. Afoguei-te com a violência dum tornado, arranhei-te, fustiguei-te com o chicote do meu desespero impaciente. Nada. Percorreste todas as teclas do piano do amor com a perfeição dum pianista tecnicamente exímio. Mas nem por um só momento, nem sequer num único compasso, o trecho tocado teve a chispa de fogo que um artista lhe emprestaria. Tentei outro caminho. Acusei-me. Falhado. Não conseguira despertar em ti a mulher adormecida. Inepto. Tolice, disseste. Eu fora perfeito e não tinha culpa por não reagires ao meu esforço. Pareceu-me a primeira vulnerabilidade, o primeiro bloco quebradiço da barreira que me tinha à distância. Gentileza profissional, concluí; afinal, sempre era um cliente. Resolvi insistir. E da insistência obtive a primeira informação verdadeiramente válida: nem eu, nem nenhum homem, conseguiria alguma vez acordar em ti qualquer interesse pelo acto sexual. Ainda quis saber porquê. Mas confessaste o sono e fugiste à resposta. E, daí a pouco, dormias.

(continua)

SORRISO DO DIA

Para quem for atreito a emergências...